Da Rússia com uma hashtag

Autoridades americanas dizem que muita da informação sobre os bots russos no Twitter pode estar irremediavelmente perdida.

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LUSA/JIM LO SCALZO

Esta semana, alguém projectou nas paredes da sede do Twitter, em São Francisco, a frase “Ban Russian Bots”, um apelo a que a empresa remova da plataforma as contas automatizadas e geridas por programas de computador que foram criadas na Rússia com o propósito de manipular o desfecho das eleições americanas. Uma fotografia da projecção circulou pela Internet, o que incluiu o próprio Twitter e também sites de notícias, como o da agência Bloomberg.

Quando se fala do impacto das plataformas online nas eleições americanas, o que mais frequentemente surge na discussão (especialmente deste lado do Atlântico) é o papel do Facebook na vitória de Donald Trump: desde a disseminação de propaganda mascarada de notícias, até àquilo que muitas pistas indicam ser uma operação russa montada de forma inteligente para influenciar o eleitorado. As estratégias russas, que estão a ser investigadas pelas autoridades americanas, incluíram falsos grupos sobre temas fracturantes (como o porte de armas) e a compra de anúncios direccionados a grupos específicos de pessoas (a que, de resto, as duas campanhas também recorreram, como já aconteceu em eleições passadas).

O Google também teve um papel, ao permitir, por inação, que a sua plataforma de publicidade (com a qual é possível ganhar alguns cêntimos por cada clique em anúncios) servisse de incentivo financeiro a uma miríade de sites de noticias falsas. Ficou famosa a história dos sites criados na Macedónia, um país onde o custo de vida é relativamente reduzido e os dólares obtidos nos anúncios são valiosos. Estes sites, por norma, apoiavam Trump com histórias inventadas e denegriam Hillary Clinton, também com invenções. Faziam-no não por uma motivação política, mas porque esta era a fórmula que resultava em mais cliques e, portanto, em mais dinheiro.

Por seu lado, o Twitter contribuiu para a disseminação de desinformação, em parte graças aos chamados bots, que têm sido um dos calcanhares de aquiles da plataforma já desde antes das eleições e a respeito de outros assuntos. Estas contas automatizadas espalhavam mentiras, amplificavam mensagens e (importante dentro do ecossistema desta rede social) tentavam fazer com que determinados assuntos conseguissem ascender à lista dos “assuntos do momento”, uma listagem que a plataforma apresenta a todos os utilizadores com os temas mais populares.

Nesta sexta-feira, o site Politico (que cita fontes anónimas das autoridades americanas que estão a investigar as eleições) noticiou que o rasto daquelas contas poderá estar irremediavelmente perdido. Quem quer que as tenha criado, apagou a informação, o que terá feito com que rapidamente tenham desaparecido dos servidores da empresa. As políticas de privacidade do Twitter notam que os dados apagados pelos utilizadores só deverão continuar acessiveis para a empresa durante “um breve período de tempo”. Afinal, nem tudo fica na Internet para sempre.

A rubrica Tecnologia encontra-se publicada no P2, caderno de domingo do PÚBLICO

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