Esta semana em Paris, as modelos eram mais saudáveis?

Em Setembro a LVMH e a Kering lançaram uma directiva em conjunto para assegurar a saúde física e mental das modelos. Em Paris, entrou em vigor a nova legislação. O que mudou?

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LUSA/CHRISTOPHE PETIT TESSON

Com a Semana de Moda de Paris a chegar ao final, dá-se por terminada mais uma temporada de desfiles, com as colecções de moda de Primavera/Verão 2018. Foi a primeira vez que as marcas estiveram sujeitas à nova legislação francesa acerca do bem-estar das modelos, que entrou em vigor em Maio. Ao mesmo tempo, dois dos maiores grupos franceses de marcas de luxo – LVMH e Kering – decidiram eliminar da passadeira modelos com tamanhos inferiores a 34.

Depois de anos de queixas contra a indústria por promover uma imagem irrealista do corpo da mulher – e incentivar hábitos pouco saudáveis não só às próprias modelos, mas também às raparigas que são influenciadas por essas imagens – o discurso e as atitudes das marcas parecem estar a mudar.

O acordo da LVMH e Kering foi estabelecido em conjunto e implica, por isso, alguns dos nomes mais influentes da indústria da moda, tais como Dior, Givenchy, Louis Vuitton, Marc Jacobs, Gucci, Balenciaga e Saint Lauren.

No documento, as duas empresas acordam que as marcas debaixo do seu guarda-chuva só trabalharão com modelos que tenham um tamanho do 34 para cima – 44 no caso dos homens – e que mostrem um certificado médico emitido há menos de seis meses a atestar o bom estado da sua saúde. A marcas comprometem-se ainda a colocar um "psicólogo/terapeuta" ao dispor das modelos e a garantir que trabalhos com nudez acontecem apenas mediante autorização expressa das próprias. Fica estabelecida, ainda, a idade mínima de 16 anos para "participar em desfiles e produções fotográficas a representar um adulto".

A decisão vem em conformidade com a lei francesa que entrou em vigor em Maio e que obriga as modelos a apresentarem um certificado médico que prove que estão em bom estado geral de saúde física – e não excessivamente magras –, de modo a poderem trabalhar. Foi também anunciada, na altura, uma regra para entrar em vigor em Outubro, segundo a qual as imagens comerciais que forem retocadas deverão ter um aviso que tal aconteceu.

O acordo da Kering e LVMH "ainda está longe de ser um standard para toda a indústria e as modelos em Paris permanecem muito magras e jovens", aponta o repórter da Reuters, durante a Semana da Moda. No entanto, dado que os grupos controlam algumas das marcas mais influentes do mundo, há motivos para crer que poderá ter um impacto durante as próximas estações. "Vi muitas raparigas com distúrbios alimentares... [a directiva] ajuda-as a não danificar os próprios corpos para encaixarem no standard", conta a modelo de 20 anos Danielle Ellesworth à agência noticiosa, antes do desfile da Dior.

"Esperamos inspirar a indústria a seguir-nos, fazendo assim uma verdadeira diferença nas condições de trabalho das modelos em toda a indústria", refere François-Henri, CEO da Kering, em comunicado.

Ainda assim, há quem considere um passo atrás a directiva dos grupos e a lei francesa. "Continua-se a dizer às outras pessoas o que fazer com o seu corpo, em vez de se focarem no tipo de corpo natural de uma pessoa e deixarem-na ser saudável", escreve a V Magazine

A especialista em bioética Elizabeth Yuko vê o passo da Kering e LVMH como "mais uma forma de policiar o corpo das mulheres", segundo um artigo escrito pela própria no site Sheknows.  Kelsey Osgood, autora de How to Disappear Completely: On Modern Anorexiac vai mais além. "Apesar de não achar que thin-shaming (envergonhar alguém por ser demasiado magro) seja um assunto tão sério quanto o fat-shaming (por ser demasiado gordo), considero perturbador que uma forma ou tamanho seja banido", diz à Racked. A autora reconhece que há mulheres que são "naturalmente" um tamanho 32. "E se alguém for naturalmente um tamanho 10 (americano), digamos, e passar fome para manter o tamanho 6. Banimo-la?", provoca. "Suspeito que há formas melhores das agências e criadores assegurarem que as modelos que contratam estão saudáveis."

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