Carlos Brito diz que "a pior coisa que PCP pode fazer" é pôr em causa a "geringonça"

O histórico ex-dirigente comunista considera que seria "extremamente negativo" o PCP arrepender-se e pôr em causa a solução governativa de esquerda com o Partido Socialista.

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O histórico ex-dirigente comunista Carlos Brito defende continuidade da "geringonça" Miguel Manso

O histórico ex-dirigente comunista Carlos Brito advertiu, esta segunda-feira, que a pior coisa que o PCP pode fazer, após os maus resultados eleitorais autárquicos, é pôr em causa a solução governativa de esquerda acordada com o PS.

"No quadro actual, a pior coisa que o PCP podia fazer era arrepender-se da abertura que fez a seguir às legislativas de 2015 e voltar ao anterior enconchamento. Isso é que seria extremamente negativo", afirmou Carlos Brito, referindo-se ao acordo parlamentar entre os partidos de esquerda para suportar o Governo PS, num comentário aos resultados eleitorais deste domingo.

Apesar da derrota do PCP em câmaras que dominava há muitos anos, Carlos Brito considerou que as autárquicas de domingo ficaram, sobretudo, marcadas pelo "verdadeiro colapso" do PSD. "O resultado mais marcante, e que marca profundamente o quadro político português, é a grande derrota do PSD, o verdadeiro colapso do PSD nestas eleições, que inclusivamente abre uma crise de liderança que não se sabe ainda como irá terminar. Mas a crise, queira-se ou não, está aberta", afirmou Carlos Brito, em declarações à agência Lusa.

Para as derrotas do PCP em câmaras com tradição comunista, o histórico ex-dirigente do partido disse terem pesado, "não exclusivamente, mas acima de tudo, factores locais", entre eles "as chamadas candidaturas independentes, as listas de cidadãos eleitores", como nos casos "de Peniche e de vários concelhos do Alentejo".

"E acontece que estas listas, em muitos casos, são dinamizadas e têm grande participação de dissidentes do PCP ou de ex-simpatizantes do PCP. E creio que elas avançaram por culpa do próprio PCP. É o sectarismo do PCP, a sua incapacidade de dialogar com as pessoas, que levou a esta situação", argumentou.

Carlos Brito reconheceu a existência de "outros factores que também pesaram muito nesta derrota", como "factores da gestão" e opções tomadas pelas autarquias lideradas pelo PCP, "particularmente nos períodos de austeridade" e de grande dificuldade financeira dos municípios. "Creio que houve uma excessiva severidade nalgumas áreas adoptadas pelo PCP, como a preocupação de não agravar a situação financeira das autarquias, que acabou por não ser bem compreendida pelo eleitorado, particularmente, em algumas áreas como os transportes colectivos. Eu creio que estes erros de gestão o PCP está a pagá-los, e pagou-os caros", analisou.

Sobre a vitória clara do PS, Carlos Brito defendeu que "não se pode deixar de considerar que teve algum resultado" nas perdas de câmaras comunistas, mas contrapôs que "não teve influências em autarquias" com algum peso, "como Setúbal, onde o PCP teve uma extraordinária vitória e aí os factores nacionais não se fizeram sentir assim". "Foi onde houve uma gestão deficiente que esse factor da onda nacional (do PS) teve maior influência", defendeu.

Carlos Brito disse ainda não acreditar que a abertura que o PCP fez a partir das legislativas de 2015 tenha sido a causadora destas derrotas. "A abertura do PCP foi incompleta", sublinhou, considerando que o partido "devia ter ido mais longe no diálogo com a sociedade" e "com numerosíssimos comunistas e simpatizantes do comunismo, que deixaram de estar no partido ou que o partido deixou ficar pelo caminho".

"A experiência internacional e de outros partidos comunistas mostra que esta coisa de abrirem e depois terem medo da abertura, porque as coisas não correram tão bem como pensavam ou desejavam, e depois voltarem ao enconchamento, este abrir e fechar, abrir e fechar, é que tem retirado credibilidade aos partidos comunistas e à sua influência na sociedade", sustentou.

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