"Uma imaginação prodigiosa"

José Carlos Vasconcelos, director do Jornal de Letras, fala sobre Jorge Listopad, seu colaborador desde 1982.

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Jorge Listopad (ao centro), no Teatro São Luiz, em Lisboa EGEAC/José Frade

José Carlos Vasconcelos conheceu Jorge Listopad no Porto, no início da década de 60, quando, como membro do Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra, se deslocou à cidade para a gravação, na RTP, da peça de Lorca A Sapateira Prodigiosa, sob a direcção do realizador checo.

“No fim dessa gravação houve um encontro no Ateneu Comercial com Aquilino Ribeiro, que deu inclusivamente origem a uma discussão entre o escritor e o nosso encenador, o Paulo Quintela”, recorda o jornalista e director do Jornal de Letras.

Mas foi só mais tarde que viria a conhecer pessoalmente Listopad, em Lisboa, tendo-o inclusivamente convidado para colaborar com o JL logo em 1982, no ano a seguir à sua fundação. “Foi um colaborador fixo do jornal, com uma página em que fazia o balanço crítico da agenda teatral no país”, diz o jornalista, recordando também que Jorge Listopad integrou o primeiro conselho editorial do JL, com Fernando Assis Pacheco e Eduardo Prado Coelho.

“O Jorge Listopad tinha sobretudo uma imaginação prodigiosa, muito especial. Era um homem de poucas palavras, subtil, mas sempre com muita ironia”, diz Vasconcelos, admitindo que, muitas vezes, os seus amigos tinham dificuldade em acreditar nas histórias de vida que ele contava – algo que posteriormente iam confirmando em contacto com os lugares e com as pessoas que o tinham conhecido. “Então confirmávamos que a vida dele tinha uma dimensão extraordinária: foi um herói da Resistência checa à invasão nazi e depois acabou como que excomungado com a mudança de regime”, diz Vasconcelos, lembrando que Listopad se radicou em Portugal quando era adido cultural em Paris.

O jornalista realça também a carreira de Listopad poeta. “Era um grande poeta checoslovaco, que foi inclusivamente Prémio Nacional de Poesia no seu país quando tinha apenas 30 anos.” Não publicava a sua poesia em Portugal, porque achava que era intraduzível para outra língua, nota – de qualquer modo, tem a sua obra antologiada em edições como a Gallimard, em francês, e também publicada em alemão.

No final dos anos 1990, o canal Arte fez um documentário sobre Jorge Listopad que, lamenta Vasconcelos, nunca chegou a ser exibido em Portugal.

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