Investir no SNS? Sim, mas não da forma errada

Senhor ministro da Saúde: as prioridades, mais do que estarem trocadas, não poderiam estar mais erradas.

O investimento na formação dos médicos mais qualificados e capazes de prestar os melhores cuidados de saúde a todo o cidadão português tem sido uma exigência por parte da Associação Nacional de Estudantes de Medicina (ANEM), cuja reivindicação tem sido ignorada, resultando, inevitavelmente, na deterioração dos cuidados em saúde no nosso país.

De facto, quando a ANEM reclama a adequação do número de ingressos às capacidades formativas das escolas médicas, está a defender um investimento na formação dos futuros jovens médicos e a promover a qualidade dos serviços prestados pelos mesmos. Quando a ANEM exige uma vaga na especialidade para todo o recém-graduado em Medicina, está a incitar à persecução dos melhores cuidados de saúde passíveis de serem prestados por parte dos médicos portugueses. Assim, não poderia ser de outra forma senão com satisfação que acolheria a boa nova de que há vontade de investir no Serviço Nacional de Saúde e, consequentemente, e indissociavelmente, na saúde em Portugal. Eis senão quando constato, recentemente, que as prioridades, mais do que estarem trocadas, não poderiam estar mais erradas. Senhor ministro da Saúde:

1. Explique-me como é que não o incomoda que um recém-graduado, em que o Estado e todo o contribuinte português investiu cerca de 100 mil euros, saia imediatamente para o estrangeiro, onde a sua formação é reconhecida e valorizada, porque é forçado a fazê-lo? Porque o Estado português optou por desperdiçar esse investimento que é de todos nós?

2. Quando fala em compensações, porque não falar de retribuir o investimento que o Estado faz, e bem, na formação pré-graduada através da retenção dos recém-graduados em Portugal para aquisição de especialidade? Pretende que haja uma “compensação” por parte de quem escolhe sair quando não tem a opção de ficar?

3. Se pretende uma fidelização, porque não desejar que a mesma decorra de ambas as partes, e não apenas do médico para com o Estado? Porque não exigir também do Estado, perante o recém-graduado, a mesma fidelização? Porque não assegurar um período mínimo de obrigação de formação que dure desde o ingresso no curso de Medicina até à obtenção do grau de especialista, assegurando a especialidade a todo o recém-graduado?

Numa coisa o senhor ministro tem razão: “Não é uma questão de esquerda ou de direita, é uma questão de bom senso.” Recorramos então ao mesmo e trabalhemos, em conjunto, na melhor prestação dos cuidados de saúde aos portugueses, no investimento na formação dos nossos profissionais de Saúde, e na atractividade e excelência do nosso Serviço Nacional de Saúde.

Nós já demos soluções para que os recém-graduados se mantenham no nosso país, ao serviço dos portugueses. A Ordem dos Médicos já deu soluções para que os recém-especialistas se mantenham no nosso Serviço Nacional de Saúde, ao serviço da nossa Saúde. Como assume, é o senhor ministro que está “de turno”, por isso faça o que qualquer outro profissional de Saúde faz quando está em funções: salve quem está na sua dependência; invista na formação dos jovens médicos; invista no Serviço Nacional de Saúde, para que, perto da celebração dos seus 40 anos, este constitua um orgulho de todos nós, os que estamos aqui para o defender.

 

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