“Qualquer formação sobrevive quando aposta na investigação”

O Instituto Politécnico de Coimbra é das instituições académicas em Portugal com maior oferta de cursos de formação executiva. De ano para ano, aumenta o número de pós-graduações, MBA’s e cursos breves.

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Na escola de negócios do Politécnico de Coimbra 95% dos alunos são profissionais e estão empregados DR/ISCAC
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Jorge Conde, presidente do IPC: “A nossa estratégia é ser uma escola para a vida, ou seja, ser uma escola que ofereça uma escolha suficientemente alargada" DR/ISCAC

A oferta de formação executiva está dispersa um pouco por todas as escolas do Instituto Politécnico de Coimbra (IPC). Da Escola Superior de Educação de Coimbra ao Instituto Superior de Engenharia de Coimbra são várias as áreas de estudo e as especializações. No entanto, será a Coimbra Business School – o também designado Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Coimbra (ISCAC) – a dar a maior “fatia” de programas para executivos, sobretudo nas ciências empresariais. O PÚBLICO falou com Jorge Conde, presidente do IPC, e Georgina Morais, directora da formação executiva da escola de negócios de Coimbra.

Na anterior edição de Executivos, em Maio, o Politécnico de Coimbra registava um aumento de 17 cursos deste tipo de graduação, na lista recolhida e publicada em exclusivo pelo PÚBLICO – contrariamente aos concorrentes que diminuíam a oferta e focavam-se em formações mais especializadas. “A percepção que temos é que somos cada vez mais procurados pelas empresas. Esperamos, nos próximos dois anos, alargar a formação direccionada a quem já está no mercado de trabalho”, diz Jorge Conde, eleito em Maio deste ano para a presidência do IPC. São assim as organizações, públicas e privadas, a justificar o aumento significativo de cursos.

Georgina Morais revela que a Coimbra Business School tem, neste momento, mais de 100 parcerias. “Queremos sempre lançar cursos com parceiros que sejam os parceiros-core do negócio. Porquê? Porque são eles que conhecem melhor o negócio”, explica. Para além de conjugarem o melhor de dois mundos, o carácter prático e especializado do politécnico, muitos professores funcionam como consultores nas aulas e dão uma visão do que passa em determinado mercado. “Conjugámos corpos docentes especializados diferentes. Por exemplo, em gestão da agricultura, vamos ter professores da Escola Superior Agrária e do Instituto Superior de Contabilidade e Administração”, refere o presidente do IPC.

Mas há ainda uma garantia mais importante: uma parceira com uma empresa significa, a priori, que determinada formação terá um público-alvo e também mais notoriedade e divulgação junto de determinado sector. “As carreiras têm de ser pensadas a uma escala global e isso passa por entrarmos na equação de ajustarmos a oferta à procura e sabermos que as organizações procuram profissionais com determinadas competências”, afirma a directora da formação executiva da Coimbra Business School.

A escola de negócios e a oferta de formação executiva em Coimbra começou há cerca de dez anos. Vários ex-alunos do politécnico tinham mostrado interesse em aprofundar conhecimentos numa formação mais especializada. “Começámos com poucos cursos nas pós-graduações e fomos crescendo porque entendemos que esta é uma área de grande potencial. 95% dos nossos alunos são profissionais e estão empregados”, clarifica Georgina Morais.

Embora sejam os alunos da região a “garantir a abertura dos cursos”, segundo Jorge Conde, parte do objectivo do IPC passa por descentralizar. Alunos de vários pontos do país e até mesmo dos PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa) podem aprender formação executiva made in Coimbra. “São quadros que já foram para a universidade, mas precisam do patamar seguinte”, diz o presidente do politécnico. A estratégia para conseguirem captar estudantes além-fronteiras passa pela ferramenta de e-learning, que permite assistirem às aulas em tempo real sem sair de casa.

Para Georgina Morais, a diminuição dos custos associados à formação, seja em deslocações ou propinas, tornam a Coimbra Business School atractiva face aos demais concorrentes. “O nosso segmento será mais um segmento médio (alto e baixo)”, diz. Uma pós-graduação em Auditoria, Risco e Controlo de Sistemas de Informação pode custar cerca de 1750 euros, já uma pós-graduação em Criminologia custa 1450 euros na escola de negócios de Coimbra, segundo o site oficial da instituição.

Apesar de todas as escolas do Instituto Politécnico de Coimbra terem vários cursos de formação executiva, apenas o Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Coimbra recebeu a terminologia de business school (escola de negócio). “Esta marca foi muito importante e sem dúvida ajudou na notoriedade. Configura aquilo que praticamos na formação”, defende a professora.

As ciências empresariais, a gestão, a fiscalidade, a auditoria e a contabilidade são as áreas fortes da Coimbra Business School. Contudo, a escola já está a emergir para outros sectores como o direito, a informática e até a música. Porém, haverá sempre uma componente financeira ou económica aplicada aos planos de estudo, para fazer jus à tradição da escola. “Vamos lançar uma pós-graduação de gestão na indústria da música: não basta ter um bom músico ou uma editora para gerir bem os negócios. Fazemos sempre esta ligação entre a parte mais técnica e a gestão. É evidente que a escola é transversal, mas há algumas especificidades no sector de actividade”, clarifica Georgina.

Para o presidente do IPC, a dispersão da oferta de programas executivos pelas escolas é “uma questão de arrumação”. “Quando falamos de agricultura ou saúde, os conhecimentos estão muito centrados em duas escolas”, afirma. Para Jorge Conde, a “arrumação” resulta também do que aluno pretende da formação: “Um médico ou um técnico superior de radiologia quando quer fazer uma pós-graduação em ressonância magnética não vai querer ter um diploma a dizer Coimbra Business School. Vai querer de uma escola especializada”.

Se a formação executiva é “cada vez mais uma prioridade” no politécnico, o reforço destes programas passará não só pela escola de negócios, mas também por todas as outras escolas, segundo Jorge Conde. E esta aposta não entrará em confronto com as licenciaturas e os alunos que estão na sua primeira experiência universitária. “A nossa estratégia é ser uma escola para a vida, ou seja, ser uma escola que ofereça uma escolha suficientemente alargada. Algumas licenciaturas já são demasiado especializadas e terão de ser repensadas no futuro”.

Para a Coimbra Business School, que nos últimos anos tem recebido cerca de 1000 alunos por tempo lectivo, a prioridade das 37 pós-graduações deste ano focam-se no aprimoramento dos programas para executivos. Porque “qualquer formação sobrevive quando aposta na investigação”, conclui Georgina Morais.

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