“Descansar é palavra proibida” no Alentejo, onde o PS pode fazer estragos

CDU de coração apertado com os socialistas colados em Moura e os dissidentes na Vidigueira. Jerónimo insiste em capitalizar com a obra e a tradição autárquica comunista.

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Comício de Carlos Pinto de Sá, em Évora, contou com a participação de Jerónimo de Sousa NUNO VEIGA/LUSA

O entra e sai porta sim, porta sim das lojas, os cumprimentos a todos os que passavam nas apertadas ruas ou se abrigavam dos 32 graus sob os chapéus das esplanadas da zona mais antiga de Moura, e meia dúzia de frases de Jerónimo mostram que a CDU sente a aceleração do tique-taque do cronómetro eleitoral. “Descansar deve ser palavra proibida até 1 de Outubro; temos tempo de descansar depois. O que nos falta em propaganda sobra em energia para mobilizar”, apelou o líder do PCP no final de uma arruada naquela cidade alentejana do distrito de Beja que os comunistas têm ganho à justa ao PS – em 2001 por três votos, em 2013 por 22. À tarde, em Évora, haveria de subscrever as críticas do presidente e recandidato Carlos Pinto de Sá à herança deixada pelos socialistas no município, uma “gestão desastrosa”, como a classificou.

A estas somam-se outros comentários de Jerónimo de Sousa no Teatro Garcia de Rezende, que trazem de volta a picardia da passada semana com Catarina Martins. “Sabemos que as autarquias não são um espaço neutro de acção política e de projectos distintos. Évora bem o sabe. Mas ninguém ouvirá a CDU a difamar ou diminuir o poder local democrático na expectativa que isso dê uns votos.” E vincou: “Não descobrimos agora o que há 40 anos fazemos como ninguém, com o envolvimento real e permanente da população e das suas organizações, e não em arremedos participativos para serem notícia.”

Na Vidigueira falou sobre os problemas da interioridade e criticou a descentralização do PS defendendo que é preciso uma nova lei das finanças locais; em Évora realçou propostas comunistas para a região, como um novo hospital e outro traçado para a ferrovia, e até a reposição pela câmara, à revelia do anterior Governo, da semana de 35 horas.

Jerónimo fechou esta terça-feira a porta da campanha alentejana escolhendo concelhos onde “a luta continua”. Em Moura elegeu quatro vereadores contra três do PS e nesta campanha eleitoral, mais do que comícios, os candidatos da CDU fizeram (literalmente) teatro e noites musicais para os eleitores; na Vidigueira debate-se com o PS (ao qual venceu por 3-2 em 2013) e com uma candidatura de vários dissidentes da CDU liderada pela vice do município mas que o partido não quis tornar cabeça-de-lista para suceder ao presidente atingido pela limitação de mandatos (“indivíduos sobredotados ou com os olhos rasgados até ao umbigo”, disse, com amargura); em Évora, a oposição tem capitalizado argumentos pela falta de obras no último mandato, a que Pinto de Sá responde que andou a pagar dívidas deixadas pelo PS e até a tirar teias de aranha das arcadas do centro histórico; em Viana do Alentejo é o PS a liderar (3-2) e a CDU tem metade dos votos dos socialistas.

José Batalha conhece Jerónimo de Sousa dos tempos das batalhas políticas enquanto trabalhador da fábrica de baterias Tudor, em Vila Franca; troca umas palavras com ele quando passa. Mudou-se para Moura há uns anos, tem uma loja de pesca mesmo em frente à câmara mas não se alonga sobre quem prefere ver entrar ali a partir de Outubro. “Se houver mudanças, devem vir para melhorar.” O Alqueva, ali ao lado, tem sido a “mola” para a região, mas é preciso aprender a aproveitá-lo ainda mais na agricultura e no turismo, deseja Batalha que fala ainda do aeroporto de Beja “A ver vamos o que conseguem fazer com aquilo…” 

 

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