O bom JP Donleavy

É horrível quando se desiste de um autor porque parece que foi o autor a desistir de nós.

JP Donleavy deixou-nos bons romances cómicos que eu li compulsivamente na minha adolescência. O herói é sempre um canalha imoral e egoísta que é irresistível. São livros cheios de riso, sexo, snobice, hedonismo e desobediência.

O primeiro que li foi The Beastly Beatitudes of Balthazar B (1968). Só depois é que fui ler The Ginger Man (1955) e The Saddest Summer of Samuel S (1966) e o meu favorito, Meet My Maker the Mad Molecule (1967). Li-os nas edições baratas da Penguin que só saíam um ano depois do lançamento em capa dura.

Fiquei depois naquela preciosa condição de ficar à espera que Donleavy escrevesse um novo romance porque já tinha lido todos. Estava tão desesperado que até comprei a edição americana de The Onion Eaters (1971). Divertiu-me muito, mas foi a minha primeira desilusão por ser repetitivo. Se não tivesse lido os livros anteriores, teria sido diferente.

Gostei de lê-lo sofregamente até esbarrar com Schultz (1979), em que Donleavy abandona a fórmula mágica que descaradamente empregava para reescrever vez após vez o mesmo delicioso romance. É horrível quando se desiste de um autor porque parece que foi o autor a desistir de nós. Perde-se, de facto, uma pessoa. Isso e a alegria da febre de estar à espera de um livro novo, incluindo a tristeza de ter rapidamente acabado de ler o último disponível.

Ser adolescente é conseguir viver a literatura como se fosse um futuro desejado ali naquele momento, que os romances ajudam a formar – e que incluem o que está proibido.

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