Metade do debate sobre o futuro do Porto foi gasto com o passado

Rui Moreira admitiu que sentia a falta do PS e de Manuel Pizarro no executivo camarário.

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Quem só ouvisse a primeira parte do debate com os candidatos à presidência da Câmara do Porto, nesta terça-feira na SIC, não ficaria a conhecer uma só proposta de Rui Moreira (independente), Manuel Pizarro (PS), Álvaro Almeida (PSD/PPM), Ilda Figueiredo (CDU) ou João Teixeira Lopes (BE) para o futuro da cidade. Os primeiros 45 minutos foram gastos entre o fim do acordo entre o independente que preside actualmente ao município e os socialistas, bem como com o balanço do mandato que está a terminar. O caso Selminho foi o tema de abertura da transição do debate já só emitido pela SIC Notícias.

João Teixeira Lopes tentou pôr fim ao tema do fim da ruptura do acordo entre Moreira e Pizarro, já este era discutido há uns bons 20 minutos: “Isso não interessa nada aos portuenses. É o que a velha política representa e da qual me distancio: a política de lugares”, disse. Mas o tema não desaparecia assim com tanta facilidade, depois de a conversa a cinco, moderada por Clara de Sousa, ter começado com o presidente da Câmara do Porto a admitir que sentia “a falta” de ter o PS no seu executivo e do próprio Manuel Pizarro - "essencial para mim", chegou a dizer.

Algo nervoso, no arranque do debate, Rui Moreira não escapou às críticas dos restantes candidatos pelo facto de ter estado ausente do primeiro embate portuense, na semana passada, na TVI. Desta vez, no Salão Árabe do Palácio da Bolsa, o autarca não faltou a um dos quatro debates em que aceitou participar. E só começou a ficar mais à vontade quando acusou Álvaro Almeida de ter “vergonha” de ser o candidato do PSD, uma vez que, disse, “apresenta-se como independente, mas diz que obedece às ordens do PSD e do PPM”.

Enquanto o independente do PSD/PPM e os dois candidatos mais à esquerda se esforçavam para dizer que eles é que eram a verdadeira alternativa à cidade - com Ilda Figueiredo a puxar pelos galões de a CDU ter, na actual vereação, um vereador eleito que sempre fez oposição - Manuel Pizarro e Rui Moreira defendiam a política desenvolvida no mandato que agora chega ao fim. Pizarro salientava “a enorme capacidade de concretizar” como a marca do pelouro da Habitação que geriu, mas ouviu Álvaro Almeida dizer que não fez mais do que continuar o trabalho de regeneração dos bairros iniciado pelo mandato anterior, “e a um ritmo inferior”.

Já Rui Moreira defendeu-se dos exemplos das obras que ficaram por fazer, lembrados pela candidata da CDU, para dizer que fez o que pôde, prometendo fazer o resto, se ganhar as próximas eleições e afirmando: “Não fizemos nada ao contrário do que prometemos, o que é diferente de outras formas de governação no país”.

Só depois de ultrapassado o tema Selminho - a imobiliária do presidente da câmara e seus familiares que mantém um diferendo com a autarquia sobre a capacidade construtiva de um terreno -, com Teixeira Lopes, Ilda Figueiredo e Álvaro Almeida a dizerem a Rui Moreira que andou mal ao não ter anunciado a situação quando se candidatou e ao ter passado uma procuração sobre a matéria quando até isso lhe estaria vedado, é que foi possível ouvir os candidatos apresentarem algumas das suas propostas para o Porto.

A pressão do turismo sobre o centro da cidade e a dificuldade em conseguir habitação a preços comportáveis foi o mote para Pizarro apresentar a sua proposta de construir habitação em parceria com privados. “PPP [Parceria Público Privada]”, gritou João Teixeira Lopes, contra-argumentando com a criação de uma taxa turística capaz de “colmatar a pressão brutal que o turismo exerceu na cidade” e já agora, a cidade devia ter a coragem de “suspender por um ou dois anos” o licenciamento de novas unidades hoteleiras. Rui Moreira disse que “a fiscalidade” irá ajudar a resolver o problema de falta de habitaçao para a classe média e, mostrando-se favorável à parceria com privados, disse que é preciso “densificação próxima das paragens de metro”.

Álvaro Almeida não defendeu mais construção, mas “uma reabilitação muito mais intensa do que foi feita, alargando as áreas de reabilitação urbana a toda a cidade, com benefícios fiscais”.

Já Ilda Figueiredo realçou que não quer a cidade como uma “Disneylândia” e que o momento para aprovar a taxa turística - que aconteceu recentemente na câmara - não era este. Pelo caminho, a candidata comunista disse que a câmara “devia parar para pensar” na atribuição de licenças para novos alojamentos turísticos na cidade e “rever o regulamento municipal para impedir o aumento das rendas [nos bairros sociais]”.

O futuro do Aleixo foi levemente abordado por Manuel Pizarro, com o socialista a explicar que propõe o “resgate” do fundo imobiliário que gere o bairro social. Mas o assunto foi cortado pela raiz, para se passar para outros temas, como os transportes, com Rui Moreira a mostrar-se satisfeito com a anunciada nova linha de metro para a cidade, já que, nos últimos anos, a esse nível, estava-se, disse, “no grau zero”. E sem metro, disse, o trânsito não melhora.

Com Álvaro Almeida, Ilda Figueiredo e João Teixeira Lopes a contestarem o aumento dos parcómetros na cidade e a insistirem na necessidade, para já posta de lado, de construir a linha de metro do Campo Alegre, Pizarro defendia uma solução “metropolitana” e a criação de uma agência da Área Metropolitana do Porto em Bruxelas, para captar investimento comunitário.

E porquê votar em cada um deles? Porque a actual governação só “piorou a vida dos cidadãos”, disse Álvaro Almeida, enquanto Pizarro se mantinha confiante em que os eleitores saberão “reconhecer” o trabalho desenvolvido pelos socialistas no executivo. Rui Moreira não quis pedir a maioria absoluta e disse acreditar que conseguirá encontrar os necessários equilíbrios, se vencer sem maioria.

João Teixeira Lopes garantiu, pelo seu lado, que “nunca fará uma coligação” com Rui Moreira e que o interesse do BE é “pôr o Porto à frente” e eleger um vereador, pela primeira vez. Ilda Figueiredo insistiu na possibilidade de “surpresa” sempre oferecida pelo eleitorado portuense. E afirmou que a CDU “não faz acordo com partidos de direita”.

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