Furioso com o “Brexit”, eurodeputado britânico obtém passaporte irlandês

“Para ser franco, sinto vergonha de ser britânico em vários aspectos”, declara Charles Tannock, um dos conservadores mais críticos da saída da UE. Dublin diz que disparou o número de britânicos a pedir documento.

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O eurodeputado diz que ainda não decidiu se vai renovar o seu passaporte britânico após o "Brexit" François Lenoir/Reuters

Já era um dos mais ásperos críticos da saída britânica da União Europeia, um eurodeputado na incómoda posição de representar o país que decidiu cortar amarras com uma união que ele muito preza. Agora, Charles Tannock levou mais longe o seu desagrado e anunciou que já é detentor de passaporte irlandês – um documento que lhe permitirá continuar a ser cidadão europeu para lá de Março de 2019.

Eleito desde 1999 por Londres (a única região de Inglaterra que votou contra o “Brexit”), o eurodeputado é neto de uma irlandesa, nascida em Dublin em 1895, o que lhe permite cumprir um dos requisitos necessários para a obtenção de passaporte do país.

Um recurso a que cada vez mais britânicos lançam mão desde o referendo de Junho de 2016, preocupados com o fim da liberdade de circulação na UE e outros direitos de que gozam actualmente. Só nos primeiros três meses de 2017, o número de pedidos entregues a Dublin aumentou 68% face a igual período do ano anterior: 51 mil britânicos requisitaram passaporte irlandês, mais 20 mil do que em todo o ano de 2016, segundo estatísticas divulgadas em Abril.

Mas Tannock não é apenas mais um. Além de eurodeputado é membro do Partido Conservador britânico, o mesmo que acusa agora de fomentar “a arrogância e a presunção, o nacionalismo mesquinho e o triunfalismo”, alimentando-se da retórica eurocéptica. Em entrevista ao Irish Times, diz que há muito que se interessava pelas suas origens irlandesas, mas assume que foi a decisão de sair da UE que “acordou” esse desejo. “Para ser franco, sinto vergonha de ser britânico em vários aspectos”.

Ainda assim, assegura que enquanto estiver em funções no Parlamento Europeu irá usar o passaporte britânico, mas diz embora assuma que não tem a certeza se o irá renovar quando este expirar. “Enquanto for eurodeputado britânico é meu dever viajar enquanto cidadão britânico, mas estou seriamente a considerar se irei renovar o meu passaporte depois do ‘Brexit’ se adoptarmos uma atitude muito hostil em relação ao resto da Europa”.

Da mesma forma, Tannock garante que não está “para já” nos seus planos abandonar o partido liderado por Theresa May, afirmando que a sua saída – tal como a de outras figuras mais próximas do centro – deixaria os tories entregues à ala mais à direita, uma espécie de “tory-kip, ou um UKIP conservador”.

Mas o eurodeputado não poupa críticas à direcção seguida pelo Governo de May, a quem acusa de ter cedido em toda a linha as eurocépticos, ao optar “pelo ‘Brexit’ mais duro possível”, deixando o mercado único ou a união aduaneira. “Eles têm esta ideia absurda, promovida por pessoas como [o ministro do Comércio Intercional] Liam Fox de que a UE está a impedir o Reino Unido de negociar com o resto do mundo. Eu sempre disse que se isso fosse verdade, há décadas que a Alemanha tinha deixado o clube”.

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