EMEL muda bicicletas de sítio para não roubar espaço aos carros

Um dos objectivos do projecto é diminuir a preponderância do automóvel na cidade, mas queixas de moradores sobre perda de estacionamento levam EMEL a mudar bicicletas partilhadas para novos locais.

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A aplicação "Lisboa Bike Sharing" foi lançada em Junho, aquando da abertura das primeiras estações no Parque das Nações Nuno Ferreira Santos

Há quase dois anos que a Empresa Municipal de Mobilidade e Estacionamento de Lisboa (EMEL) está a analisar e negociar com as juntas de freguesia e a câmara municipal a localização das estações para o sistema de bicicletas partilhadas. Mas, nos últimos dias, já com dezenas de estações instaladas, a EMEL fez marcha atrás no processo: decidiu reavaliar os sítios escolhidos e até já removeu algumas estações. Motivo? Elas estavam a roubar lugares de estacionamento automóvel.

“Estamos à procura de novas soluções”, confirma Helena Carvalho, directora de Institucionais e Cidadania da EMEL. Segundo a responsável, estão a ser “reavaliadas as localizações e relocalizadas algumas estações” pois “foram consideradas as pressões de estacionamento” em certas zonas da cidade e isso levou a empresa a procurar novos locais que “não comprometessem estacionamento”.

Pelo menos 15 estações de bicicletas partilhadas estão a ser mudadas de sítio, mas podem seguir-se mais. Estes trabalhos estão a decorrer nas freguesias de Alvalade e Avenidas Novas, onde “houve alguma preocupação manifestada por moradores” relativamente à perda de lugares, diz Helena Carvalho.

Um dos locais em que os habitantes contestaram a instalação de estações foi o Bairro de São Miguel, na freguesia de Alvalade, entre as avenidas de Roma, da República e dos Estados Unidos. Ali foram colocadas duas estações, a 500 metros de distância, uma com capacidade para ter 14 bicicletas e outra para dez. Com isso perderam-se cinco lugares de estacionamento para automóveis. Pode parecer pouco mas, argumentam alguns moradores, esses lugares fazem muita falta numa área densamente povoada e procurada.

A Praça de Alvalade e a esquina entre as avenidas de Roma e dos Estados Unidos da América são dois sítios em que as estações para bicicletas desapareceram recentemente. Também aqui tinha havido contestação ao facto de terem ocupado o espaço dos carros.

Helena Carvalho sublinha que as estações “estavam tecnicamente correctíssimas” e que, no processo inicial de escolha dos locais, a principal preocupação foi “evitar roubar espaço ao peão”. Optou-se, assim, por tirar espaço aos automóveis – o que aliás coincide com o objectivo assumido pela câmara de diminuir o número de carros na cidade e fomentar outros meios de mobilidade.

No entanto, para evitar maiores divergências com residentes, a estratégia está agora a ser repensada. Trata-se, de acordo com Helena Carvalho, de trocar o bom pelo óptimo. A directora de Institucionais e Cidadania da EMEL diz que as 140 estações previstas para toda a cidade só iam afectar 0,01% do estacionamento disponível, cerca de 252 lugares. Ainda assim, até essa perda é agora considerada excessiva. “Estamos a tentar encontrar o óptimo”, acrescenta a responsável, adiantando que a câmara está envolvida na escolha dos novos locais, mas ainda sem revelar mais pormenores.

Neste momento, o sistema de bicicletas partilhadas está a funcionar apenas no Parque das Nações e ainda em fase de testes. Por lá existem dez estações e cem bicicletas que podem ser experimentadas desde o fim de Junho (quase quatro meses depois do inicialmente previsto). A intenção da EMEL é que este sistema tenha 1410 bicicletas em toda a cidade, 470 convencionais e 940 eléctricas. Também as estações serão espalhadas por toda a área urbana: 92 no planalto central, 27 na Baixa e frente ribeirinha, 15 no Parque das Nações e seis entre as avenidas da Liberdade e Fontes Pereira de Melo.

O Gira, assim se chama agora este sistema, resulta de um contrato feito entre a EMEL e a Órbita, no valor de 23 milhões de euros, em que a fabricante de bicicletas é responsável pelo fornecimento e manutenção dos veículos e estações durante os próximos oito anos. À empresa lisboeta cabe planear a rede, angariar utilizadores, gerir as receitas e os espaços publicitários. 

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