Morreu Mireille Darc, ícone do cinema francês dos anos 60 e 70

Trabalhou com Godard, Duvivier ou Yves Robert, mas foi sobretudo a beldade loura dos filmes de gangsters de Georges Lautner.

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Charles Platiau/Reuters
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Mireille Darc com Jean Yanne em Fim-de-Semana, de Jean-Luc Godard DR
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O icónico vestido preto sem costas que a actriz usou em O Louro do Sapato Preto DR
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Mireille Darc com Alain Delon, com quem viveu durante 15 anos DR
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Darc e Delon conheceram-se na rodagem de Jeff, de 1967 DR

Mireille Darc, uma das actrizes mais populares do cinema francês dos anos 60 e 70, morreu na madrugada desta segunda-feira em Paris, aos 79 anos. A protagonista de Fim-de-Semana (1967), de Jean-Luc Godard, ou da comédia O Louro do Sapato Preto (1972), de Yves Robert, já tinha sido hospitalizada em Setembro do ano passado após ter sofrido duas hemorragias cerebrais sucessivas, e encontrava-se há três dias em coma, segundo informou o seu marido, o arquitecto Pascal Desprez.

A sua carreira no cinema, muito marcada pelos papéis de loura sedutora nos filmes policiais e de gansgsters de Georges Lautner, foi particularmente intensa nas décadas de 60 e 70, quando os críticos a comparavam a Brigitte Bardot, e mesmo a Marilyn Monroe. Abrandou o ritmo nos anos 80, quando sofreu, em 1983, um grave acidente de automóvel que quase a matou. Sofria desde a infância de uma insuficiência cardíaca e teve de ser operada de urgência, de coração aberto.

Regressou nos anos 90 para se  dedicar exclusivamente à televisão, interpretando telefilmes e séries, e realizando documentários sobre temas sociais, como o tráfico de órgãos ou a prostituição, o último dos quais, Elles sont des dizaines de milliers sans abri, é de 2015. Em Setembro do ano seguinte sofreria duas hemorragias cerebrais sucessivas, e desde então, escreveu Pascal Desprez na sua nota de despedida, “foi um ano de batalhas e sofrimentos”.

Nascida em 1938 em Toulon, foi baptizada Mireille Agroz, mas adoptou o apelido artístico Darc em homenagem a Joana d’Arc. Estudou no Conservatório de Toulon e estreou-se no cinema em 1960 com um papel secundário em O Criminoso É Meu Amigo, de Jacques Dupont, tendo trabalhado nos anos seguintes com realizadores como Julien Duvivier, em O Diabo e os Dez Mandamentos (1962), ou Jean Girault, na comédia Casamento a Propósito (1963), onde faz de filha de Louis de Funès.

Mas é Des Pissenlits par la Racine (1964), uma comédia de gansgters em que volta a contracenar com Louis de Funès, que marca o seu encontro com o realizador que a transformará numa vedeta, Georges Lautner, com quem colaborará numa dúzia de filmes, até La Vie Dissolue de Gérard Floque (1987), o seu último trabalho para cinema, antes de se voltar para a televisão, onde a sua carreira terá um bem-sucedido segundo fôlego nos anos 90.

Os primeiros filmes de Lautner que protagonizou incluem Os Quatro Agentes Secretos (1964), com Lino Ventura e Bertrand Blier, e História duma Rapariga Loira (1966), o filme que consagrou a sua imagem de loura irreverente, independente e divertida, pese embora o facto de a sua a personagem, Galia, acabar apaixonada por um perfeito exemplar de macho latino, interpretado por Venantino Venantini.

Entre os melhores filmes que fez com Lautner conta-se, já no final dos anos 70, Morte de Um Canalha (1977), onde contracena com Alain Delon, com quem viveu durante 15 anos. Conheceram-se em 1968 na rodagem de Jeff, de Jean Herman, que se estrearia no ano seguinte, e voltaram a partilhar o ecrã em Madly (1970), de Roger Kahane, ou Borsalino & Companhia (1974), de Jacques Deray.

Um dos seus grandes êxitos, e talvez o filme que mais contribuiu para a tornar um símbolo sexual foi O Louro do Sapato Preto (1972), de Yves Robert, uma comédia de espionagem em que um cidadão comum (um músico de orquestra interpretado por Pierre Richard) é deliberadamente usado como isco por agentes secretos, ideia que Hitchcock já utilizara em Intriga Internacional. O vestido preto sem costas que Guy Laroche desenhou para Mireille Darc usar no filme é hoje literalmente uma peça de museu, conservada no Louvre.

A actriz trabalhou também com cineastas como Roger Vadim, Édouard Molinaro ou André Cayatte, que a escolheu para contracenar com Annie Girardot no interessante Chantagem (1973), e participou ainda em curiosidades esquecidas como Summit (1968), de Giorgio Bontempo, onde interpreta a ex-amante parisiense reencontrada por um repórter italiano de convicções maoístas. Mas se alguma das muitas obras que interpretou tem lugar assegurado na história cinema, é sem dúvida Fim-de-Semana, um dos mais selvagens filmes de Godard.

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