Os sosseguistas

Eu ainda não sou sosseguista – sou um mero aspirante, mas tenho a sorte de conhecer uma dezena de sosseguistas. Comecei a estudá-los em Outubro de 2009 e tenciono prosseguir os meus estudos até me tornar sosseguista a tempo inteiro.

É preciso olho para deparar com sosseguistas. Muitos andam sozinhos ou, no máximo, em casal. Eles desaparecem das praias mal começa o que eles chamam "a afluência", pronunciado como se fosse uma febre gripal.

Basta uma dúzia de curiosos para assustar os sosseguistas. Retiram-se para os covis confortáveis onde hibernam de Maio até Outubro. Quando as praias estão novamente vazias, eles regressam, sempre a pé, sempre com vários jornais entalados debaixo dum braço, trocando a senha monocórdica que é a deles: "Voltou o sossego, voltou o sossego..."

Quando conheci os meus primeiros sosseguistas, tinha tantas perguntas para lhes fazer! Infelizmente os sosseguistas não são nada amigos de responder. Aliás, odeiam conversas de todas as espécies. Quis saber, por exemplo, onde passam o Verão. Não dizem. Ficam com cara de caso mal se mencione o Verão. Falar do Verão é de mau gosto. Só querem falar do sossego.

Olham à volta e comovem-se com o espectáculo do nevoeiro a deslizar pelas mesas desertas das esplanadas. Já se viu coisa mais bonita? Se não estiver mesmo ninguém são homens para beber dois cafés. Cada um!

Os sosseguistas têm um cumprimento secreto para os outros sosseguistas: é uma microvénia que é preciso filmar primeiro porque só se vê em câmara lenta.

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