Juízes exilados querem denunciar Nicolás Maduro na justiça internacional

EUA estão a planear aplicar mais sanções financeiras, mas analistas advertem que pode não ser boa ideia.

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O procurador-geral da Venezuela, Tarek Saab, atacou a sua predecessora, Luisa Ortega, que diz ter provas de corrupção contra o regime de Máduro ANDRES MARTINEZ CASARES/Reuters

Dez magistrados venezuelanos no exílio estão nos Estados Unidos com o objectivo de conseguir apoios para “montar um cerco” a Nicolás Maduro e denunciá-lo na “justiça internacional”. Ao mesmo tempo, os Estados Unidos consideram aplicar mais sanções ao regime venezuelano, mas os analistas alertam para os possíveis efeitos perversos. 

Na sequência da imposição, pelo regime, de um novo organismo plenipotenciário, a Assembleia Constituinte, uma série de juízes nomeados pelo Parlamento (dominado pela oposição) saíram do país. São acusados de “traição à pátria”.

Os magistrados perseguidos – além dos que estão no estrangeiro, há outros refugiados em embaixadas estrangeiras em Caracas – vão trabalhar com “os seus pares de outros países” para “denunciar perante os tribunais internacionais os crimes contra a humanidade cometidos na Venezuela”, disse em Washington o juiz Miguel Ángel Martín.

Buscas na casa de Luisa Ortega

Enquanto esta acção decorria na capital americana, a ex-procuradora, afastada pela Constituinte, Luisa Ortega, repetiu acusações de corrupção contra o regime de Nicolás Maduro. Desta vez, Ortega, que está no Brasil, disse que Maduro e pessoas do seu círculo próximo como Diosdado Cabello ou Jorge Rodríguez receberam subornos através de empresas, uma mexicana e outra espanhola. Cabello, disse, recebeu 100 milhões de dólares da construtora brasileira Odebrecht através de uma empresa espanhola, segundo o diário espanhol El País, que no entanto não encontrou o nome mencionado por Ortega no registo das empresas do país.

“Vou entregar as provas para que as autoridades de vários países investiguem”, declarou Ortega, que deixou o país juntamente com o marido. A casa do casal em Caracas foi alvo de buscas e o regime divulgou as imagens do que encontrou: uma cave cheia de vinhos caros, obras de arte como uma litografia de Andy Warhol ou esculturas de Fernando Botero.

O novo procurador-geral, Tarek Saab, também acusado por Ortega, atacou a credibilidade desta. “Não há qualquer validade no que possa dizer uma antiga procuradora depois de dez anos de inacção contra qualquer uma das pessoas sobre quem está a falar agora.”

Ortega saiu da Venezuela na semana passada dizendo temer pela vida, junto com o marido, ex-deputado do partido de Maduro.

E enquanto isso, dois canais de televisão colombianos, a Caracol e RCN, foram tirados do ar, numa acção que os visados dizem ser "censura". Antes, já a CNN em espanhol tinha sido impedida de emitir para a Venezuela.

Sanções podem ajudar regime?

Em Washington, a Administração Trump preparava-se para anunciar novas sanções contra a Venezuela, incluindo a proibição de bancos e instituições financeiras transaccionarem obrigações de dívida do país, segundo o diário Wall Street Journal.

Apenas a informação da potencial adopção desta medida já está a fazer com que algumas instituições financeiras tenham decidido deixar de vender as obrigações venezuelanas, aumentando a pressão sobre o regime e dificultando-lhe o financiamento, diz o diário norte-americano.

No entanto, há quem avise para o potencial de boomerang desta estratégia: num cenário “gringos contra a Venezuela”, o regime de Maduro pode encontrar a “desculpa perfeita” para deixar de pagar as dívidas. “Podem dizer: é culpa dos americanos, não vou pagar”, antecipa, em declarações ao canal económico e financeiro Bloomberg, Jim Craig, do fundo de investimento Stone Harbour. 

“O Governo pode optar por não pagar a dívida”, que é de mais de 100 mil milhões de dólares, disse também Shamaila Khan, da consultora Alliance Bernstein, à agência Reuters. “Se o fizerem, ficam com mais recursos porque já não têm de pagar a dívida.” E nesse caso, “de um modo estranhamente inesperado, pode ajudar em vez de prejudicar [o regime]”.

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