Executivo de Silicon Valley demite-se e pede desculpas por assédio sexual

A cultura sexista das empresas tecnológicas tem sido alvo de debate após os casos da Uber.

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As mulheres são uma minoria no sector tecnológico Reuters/ROBERT GALBRAITH

Um executivo de uma importante incubadora e firma de capital de risco de Silicon Valley demitiu-se e pediu abertamente desculpas, depois de se ter tornado público que assediou mulheres que queriam trabalhar para a empresa. O caso surge depois de a Uber ter posto na ordem do dia a cultura sexista das empresas de tecnologia e do chamado ecossistema de startups.

Dave McClure, fundador e até há poucos dias presidente executivo da empresa 500 Startups, deixou o cargo na sequência de um artigo recente do New York Times sobre assédio sexual no círculo de startups de Silicon Valley. McLure é um dos executivos mencionados no artigo. O jornal narra um episódio, passado em 2014, de uma mulher que pretendia trabalhar para a 500 Startups. Nessa altura, McLure enviou-lhe uma mensagem no Facebook em que dizia: “Estava a ficar confuso sobre se devia contratar-te ou atirar-me a ti.”

Na sexta-feira, a 500 Startups anunciou a mudança, justificando a decisão com comportamentos anteriores de McLure com as mulheres. Agora, o ex-executivo escreveu um texto em que assume responsabilidades e pede desculpas.

“Fiz aproximações a múltiplas mulheres em situações relacionadas com trabalho, onde claramente isso era inapropriado. Pus pessoas em situações comprometedoras e inapropriadas, e, de forma egoísta, tirei vantagem dessas situações, quando deveria ter agido melhor. O meu comportamento é indesculpável e errado”, afirmou McLure.

Este tipo de situações tem sido um tema quente de discussão, especialmente nos EUA, onde episódios recentes na Uber motivaram um debate sobre as práticas e a cultura sexista do sector tecnológico.

Nesta área, a maioria dos trabalhadores são do sexo masculino. Mesmo nas grandes multinacionais, que têm preocupações de diversidade, há mais homens do que mulheres. E esta diferença torna-se maior quando são contabilizados apenas os trabalhadores em funções técnicas. Números publicados no ano passado pelo Fórum Económico Mundial indicavam que as mulheres eram cerca de 30% dos funcionários do Google, Apple, Facebook e Twitter. Em empregos técnicos, as percentagens caem para valores entre os 10% e os 20%.

No mês passado, o fundador e então presidente executivo da Uber, Travis Kalanick, acabou por deixar o cargo, depois de uma série de polémicas sobre a cultura interna da empresa, entre as quais acusações de tolerância por parte das chefias face a situações de assédio sexual. Também um membro não executivo do conselho de administração optou por demitir-se após um comentário sexista, feito numa reunião e durante uma intervenção de Arianna Huffington, a conhecida empresária fundadora do Huffington Post, que faz parte da administração da empresa. Uma investigação interna encontrou mais de 200 casos de assédio sexual e motivou o despedimento de duas dezenas de funcionários.

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