A tragédia do metro do Mondego

O ministro do PS veio agora apresentar uma solução desengonçada, com pneus em vez de carris: é o “Metropneu”. Os passageiros vão ficar à espera dos autocarros na paragem dos comboios. Bem poderão esperar pois não há nenhum sistema do género a funcionar na Europa.

Pedro Marques, ministro do Planeamento e Infraestruturas do governo PS, veio na sexta-feira passada avolumar a tragédia do Metro Mondego, que já dura há um quarto de século. Neste processo, o governo foi sempre a locomotiva dos disparates, mas as câmaras da Lousã, Miranda do Corvo e Coimbra seguiram por vezes a reboque. Havia um comboio da Lousã até Coimbra, que, por razões de segurança, não podia ir até à estação de Coimbra B. Gastaram-se mais de cem milhões de euros sem se ter avançado um metro! O estado nem sequer é o inicial: está tudo pior, muito pior. Foram retirados os carris da linha da Lousã, vendidos a sucateiros, e colocados a circular uns pindéricos autocarros que fazem um arremedo de serviço. Ao mesmo tempo arrasou-se a Baixa de Coimbra, que está semelhante a Alepo. Agora, veio o ministro dizer, sem se rir, que vai melhorar os autocarros. E as três câmaras, todas elas do PS, aplaudem.

Esta é a política nacional no seu pior: as populações dos três concelhos foram repetidamente ludibriadas pelos políticos. Já houve inúmeros casos de incompetência na política portuguesa, mas nenhum tão grave como este. Não foi só um governo, foram sucessivos governos. Não foi um só presidente da Câmara, foram vários nos três concelhos. Mas têm algo em comum: foram sempre políticos do PS e do PSD. Entre os responsáveis nacionais encontramos, por exemplo, José Sócrates, Mário Lino, Passos Coelho e Miguel Relvas. Foi um "fartar vilanagem" de estudos e mais estudos, de más decisões, de dinheiro desperdiçado, de anúncios públicos enganadores. Dois gestores do Metro Mondego foram a tribunal por terem usado cartões de crédito da empresa em despesas pessoais, que incluíram “copos e mulheres”. Mas esta não é a única burla, já que todo o processo é uma burla completa.

O ministro do PS veio agora apresentar uma solução desengonçada, com pneus em vez de carris: é o “Metropneu”. Os passageiros vão ficar à espera dos autocarros na paragem dos comboios. Bem poderão esperar pois não há nenhum sistema do género a funcionar na Europa. Diz o ministro que a solução foi importada de uma pequena cidade do Japão. Mas aí uma linha de comboio foi destruída por um tsunami, enquanto entre nós o tsunami foi político, um vendaval de incompetência e desatino. O novo estudo, encomendado e logo entregue, só podia ser tosco. Não serve, pois já existem autocarros entre a Lousã e Coimbra e a população pura e simplesmente não os quer. A Lousã precisa de um comboio como aliás já teve. E, em Coimbra, já existem autocarros, que também não suprem as necessidades dos cidadãos. A cidade precisa de um serviço moderno de mobilidade, cuja espinha dorsal deve ser uma linha de eléctrico rápido. A anunciada frota de autocarros não vai funcionar na linha do comboio lousanense, pois, num perfil de montanha, há sítios onde dois autocarros não se podem cruzar. Por outro lado, em Coimbra, também não entram, sem um túnel, autocarros e carros no Largo de Celas, que é a porta do Hospital Universitário.

Há, para além da questão judicial de apuramento de responsabilidades, uma questão política de fundo. Lousã, Miranda do Corvo e Coimbra estão a ser tratadas com enorme desdém pelo actual governo, como já o foram pelos anteriores. Se o “Metropneu” fosse bom já estava há muito instalado em Lisboa e no Porto. Jorram milhões e milhões para os metros dessas cidades (o CDS quer muito mais, quer hipotecar o país todo com duas novas dezenas de estações em Lisboa). Mas, fora de Lisboa e Porto, os políticos, subordinados às chefias dos seus partidos, têm de viver das sobras. Nas eleições para a Câmara de Coimbra, há um candidato do Largo do Rato e outro da Rua de S. Caetano à Lapa que se contentam com poucochinho. Tanto um como outro são políticos déjà-vu, personagens da tragédia do Metro Mondego que, nas suas longas carreiras, nunca deram voz a Coimbra. A recente manobra eleitoralista do ministro do PS, com a pseudo-oposição do PSD (basta reparar que o administrador do Metro Mondego é do PSD), devia envergonhar o governo e os seus apoiantes. Onde anda António Costa, que tanto gosta de falar de descentralização? Ou será que descentralizar é tirar do Centro?

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