OCDE aponta para crescimento acima de 2% este ano

Organização internacional revê previsão de 1,2% para 2,1%, num crescimento sustentado na aceleração das exportações e do investimento.

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Entidade liderada por Angel Gurria está agora mais optimista do que quando apresentou o seu último relatório sobre Portugal Daniel Rocha

A OCDE tornou-se esta quarta-feira na primeira organização internacional a apontar para um crescimento da economia portuguesa superior a 2% este ano. Num cenário em que antecipa uma retoma centrada nas exportações e o investimento, a entidade com sede em Paris  diz que as reformas estruturais realizadas recentemente estão a ajudar a economia e reviu fortemente em alta as projecções para Portugal. Agora, defende, a aposta tem de se centrar no aumento das qualificações dos portugueses.

No relatório em que apresenta as suas previsões para a economia mundial em 2017 e 2018, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) estima que este ano a economia portuguesa atingirá um crescimento de 2,1%. O optimismo revelado é bem maior do que o apresentado em Fevereiro, quando a previsão de crescimento não passava de 1,2%.

A nova previsão da OCDE supera igualmente a actual estimativa do Governo de 1,8% (apesar de o ministro das Finanças já ter dito que o crescimento pode superar os 2% este ano) e as projecções até agora publicadas por entidades como a Comissão Europeia ou o FMI. A OCDE é assim, a primeira organização internacional a adaptar-se aos dados muito positivos registados durante o primeiro trimestre deste ano e que tornam mais provável uma taxa de crescimento acima de 2% este ano.

A explicação da OCDE para este desempenho mais forte da economia está naquilo que diz ser o efeito positivo das reformas estruturais entretanto realizadas. O relatório - que contou com a participação de Álvaro Santos Pereira, ministro da Economia entre 2011 e 2013 – diz que “as exportações vão continuar a apoiar o crescimento, beneficiando das reformas estruturais dos últimos anos”.

A previsão da OCDE é de uma aceleração do crescimento das exportações de 4,4% em 2016 para 5,5% em 2017, ao passo que o investimento passa de um ligeiro recuo no ano passado para uma subida de 6,5% este ano. O consumo privado deverá registar um ligeiro abrandamento para uma taxa de 2%.

No entanto, para o próximo ano, o optimismo reduz-se. A OCDE antecipa um abrandamento do PIB em 2018, atingindo-se uma variação do PIB de 1,6%, num cenário de abrandamento da generalidade das suas componentes.

Aquilo que limita o crescimento é, para a OCDE, o elevado nível de endividamento do sector privado, a impossibilidade (por causa do nível de dívida) do Estado aplicar uma política orçamental expansionista e algumas fragilidades estruturais que não permitem um maior crescimento da produtividade.

Desta vez, contudo, ao contrário do que era hábito acontecer em relatórios publicados no passado, a OCDE não coloca em destaque a necessidade de reformas no mercado de trabalho. No que diz respeito a reformas estruturais centra as suas recomendações na ideia de que “os ganhos poderiam ser maiores de as qualificações da mão-de-obra fossem melhoradas”.

A OCDE acredita ainda assim que a taxa de desemprego vai ficar abaixo de 10% já este ano (9,7%) e continuar a cair em 2018, até aos 8,9%.

Em relação à evolução das finanças públicas, as previsões da OCDE também melhorara muito face a Fevereiro, aproximando-se daquilo que são as metas do Governo. O défice previsto para 2017 é agora de 1,5% (em Fevereiro era de 2,1%), mantendo-se a tendência descendente no ano seguinte, com o défice a cair para 1%.

O relatório diz que uma política orçamental expansionista “até poderia ser justificada, tendo em conta que a economia ainda está a recuperar”, mas desaconselha essa estratégia devido aos “riscos de se colocar em causa a sustentabilidade das finanças públicas”.

 

Melhor, mas não o suficiente

As novas previsões para Portugal são apresentadas pela OCDE num cenário que a instituição observa uma melhoria da conjuntura internacional. Essa melhoria, contudo, é moderada. De tal modo que a OCDE resume as suas projecções para a economia mundial com o título: “Melhor, mas não o suficiente”.

Para a economia mundial, a previsão é de uma aceleração da taxa de crescimento de 3% em 2016 para 3,5% em 2017 e 3,6% em 2018, com os EUA a contribuírem com a aceleração mais significativa e os mercados emergentes como a China a registarem uma estabilização do crescimento.

Para a zona euro, a OCDE não prevê mais do que um crescimento de 1,8% neste ano e no próximo, depois dos 1,7% do ano passado.

Entre as melhorias detectadas na conjuntura internacional, o relatório destaca o melhor desempenho ao nível dos indicadores de confiança, da produção industrial, do emprego e do comércio internacional. Mas salienta que “esta ainda modesta expansão cíclica não é robusta o suficiente para gerar uma melhoria duradoura no produto potencial ou para reduzir as persistentes desigualdades”.

A OCDE volta a defender que é preciso mais investimento e assinala a existência de três factores que, a concretizarem-se, podem constituir um impulso para este indicador: uma retoma da procura global, a implementação de uma regulação que promova a concorrência e a diminuição da incerteza em torno das políticas, nomeadamente com o desaparecimento da ameaça de estratégias mais proteccionistas.

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