As Expos ainda interessam a Portugal? Este ano, a contenção de despesa voltou a falar mais alto

Dois anos depois de ter falhado a presença na Exposição Universal de Milão, Portugal não vai ter um pavilhão na Expo 2017. A exposição de Astana, no Cazaquistão, é dedicada à “energia do futuro”, uma área em que Portugal dá cartas.

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A maioria dos países da União Europeia vai participar nesta exposição. Expo 2017

As fontes renováveis são responsáveis por 27% da energia consumida em Portugal. Este número representa uma das médias mais elevadas da União Europeia. Temos enormes depósitos de lítio que vão alimentar as baterias dos carros eléctricos. E temos o maior número de horas de exposição ao sol da Europa, condição ideal para a produção de energia solar. Podiam ser motivos suficientes para mostrar ao mundo um país que pode vir afirmar-se como uma potência energética graças às fontes alternativas de produção. Mas vamos estar fora da exposição que promete falar sobre o futuro da energia.

Esta é a terceira vez que o país falha a presença numa exposição internacional deste género, depois de ter sido anfitrião da Exposição Internacional de Lisboa, em 1998.

Foram duas recusas durante o Governo de Passos Coelho, em 2012 e 2015. Agora, um impasse negocial levou a que este sábado a bandeira portuguesa não seja hasteada em Astana, capital do Cazaquistão, na abertura de mais uma Exposição Mundial.   

Contactado pelo PÚBLICO, o Ministério da Economia escusou-se a comentar o custo de uma eventual participação portuguesa, mas foram vários os encontros entre os representantes nacionais e os do Cazaquistão com o objetivo de obter condições de participação mais favoráveis. Portugal chegou mesmo a enviar uma equipa da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP) para Astana, com o objectivo de estudar uma eventual participação portuguesa.

A AICEP apresentou depois um relatório ao Governo Português, que, tendo em conta os valores em causa, optou pela ausência do país na Expo de Astana.

O Comité Internacional de Exposições (BIE), do qual Portugal é membro, diz ao PÚBLICO que um país pode não querer participar numa Expo “devido a razões diplomáticas, económicas ou temáticas”. Esta entidade, da qual Portugal faz parte desde 1932, é responsável pela escolha do país organizador das Exposições Universais e Exposições Especializadas.

Questionado sobre o valor da participação de Portugal neste evento, o BIE esclarece que nas exposições especializadas, como no caso da Expo 2017, o espaço atribuído aos países não tem qualquer encargo. Apesar disso, cada país tem a seu cargo todos os outros custos envolvidos, nomeadamente os de personalização e gestão do espaço, ao longo dos 92 dias de exposição.

Opção por presença forte na Expo de 2020

O encarregado de negócios de Portugal em Astana garante que Portugal ponderou “muito seriamente” a participação na Expo 2017, mas que decidiu não participar “por uma questão de contenção de despesas”, tendo em conta os valores em causa. Adelino Silva diz que o Governo optou antes por garantir “uma presença forte e digna” na Exposição Universal de 2020, que vai ter lugar no Dubai.

Ainda assim, o Ministério da Economia não descarta a presença em Astana e diz que está a ser estudada uma participação de outro formato no Cazaquistão. Apesar de não ter anunciado que tipo de acções está a planear, nem se estas se inserem no contexto da exposição, ou fora dela.

Tradicionalmente, a decisão da participação numa exposição deste género cabe ao ministério correspondente à temática. A título de exemplo, foi o gabinete de Assunção Cristas, então Ministra da Agricultura e Mar, a optar pela não participação na Expo de Milão, em 2015, que teve a agricultura como tema chave.

Ao PÚBLICO, a Acção Cultural Espanhola, responsável pela participação de Espanha nas exposições organizadas pela BIE, refere que o pavilhão do país, com 868 metros quadrados, espera receber 3 milhões de pessoas. O custo do desenho e produção do pavilhão está orçamentado em 1,7 milhões de euros e o retorno vai assentar em três pilares: o reforço da imagem de Espanha, a criação de uma montra para promoção do sector empresarial espanhol e a atracção de novos turistas para o país.

Participam 115 países, incluindo a maioria dos estados-membro da União Europeia, e 22 organizações internacionais na Expo 2017. Entre este sábado e 10 de Setembro, a exposição de Astana espera receber cinco milhões de visitantes, cerca de metade dos mais de 10 milhões que a Expo98 recebeu em Lisboa.

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