Ministério Público mantém tese e considera culpada a inspectora da PJ Ana Saltão

Apesar de uma procuradora ter sustentado num parecer ao Supremo que a condenação da inspectora é "inviável", outro procuradora reiterou nesta segunda-feira que a arguida é culpada.

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A arguida é inspectora da PJ Fabio Augusto

O Ministério Público reiterou nesta segunda-feira, em Coimbra, que a inspectora da PJ Ana Saltão é "culpada" de ter matado a avó do seu marido, enquanto a defesa lamentou que a acusação mantenha a mesma postura e reafirmou a inocência.

Apesar de a procuradora-geral adjunta do Ministério Público (MP) Graça Marques ter sustentado, num parecer para o Supremo Tribunal de Justiça (STJ), em 2016, que se tornava "inviável" a condenação de Ana Saltão, o procurador Jorge Leitão voltou a reiterar nesta segunda-feira que a arguida é culpada.

No início da repetição do julgamento, no Tribunal de Coimbra, o procurador do MP repetiu a mesma tese presente na acusação, considerando que a inspectora deve ser condenada "com base em prova indiciária".

"É preciso somar dois mais dois e concluir se é plausível ou não", sublinhou Jorge Leitão, considerando que a conjugação de todos os elementos prova que Ana Saltão terá cometido os crimes. Para tal, o procurador apontou para vários elementos: a arguida estaria em condições de fazer a viagem da Maia até Coimbra, que o casal não vivia numa situação económica desafogada, que o crime foi cometido como um acto de vingança e que foram detectados resíduos de disparos de arma de fogo no blusão da arguida.

"É a arguida que está a ser julgada, não é a PJ"

"É a arguida que está a ser julgada, não é a PJ", realçou ainda o procurador, que falava durante a disposição inicial, no arranque do julgamento, fazendo alusão às críticas feitas pela defesa contra a investigação realizada.

Foi exactamente nesse ponto que a advogada de defesa, Mónica Quintela, centrou o seu discurso inicial, sublinhando que a investigação foi feita a "cheirómetro" e que este é um "processo Neo Blanc" (duas expressões já utilizadas no primeiro julgamento). "Tudo era branqueado", notou a advogada, frisando que nenhuma prova que foi trazida para os autos implicava a sua cliente como a autora do homicídio.

Mónica Quintela recordou a decisão do Supremo Tribunal de Justiça de anular a condenação da Relação de Coimbra. "Vi que nada mudou", sublinhou, considerando que estava à espera que o Ministério Público deixasse "cair parte da acusação", sendo que tal não aconteceu.

Depois da defesa, acusação e também o advogado do assistente (filho da vítima) terem apresentado as suas disposições iniciais, Ana Saltão começou a responder às perguntas do juiz que preside ao colectivo, Miguel Veiga, tendo reafirmado a sua inocência.

O depoimento da inspectora da PJ continua à tarde, quando deverá responder a questões por parte do Ministério Público e da defesa. A inspectora é acusada pelo MP de ter sido a autora dos mais de dez disparos que mataram Filomena Alves, de 80 anos, na sua residência em Coimbra, na tarde de 21 de Novembro de 2012.

Ana Saltão foi inicialmente absolvida em 2014, por um tribunal de júri, e, já em 2015, o Tribunal da Relação deu como certo que a inspectora tinha matado a avó do seu marido, condenando-a a 17 anos de prisão. Passado cerca de um ano e após recurso da defesa, o Supremo Tribunal de Justiça rejeitou a decisão da segunda instância. O processo regressou à Relação de Coimbra, que determinou a repetição do julgamento na primeira instância, novamente com recurso a tribunal de júri.

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