A “fatalidade” Le Pen dominou as eleições

A filha de Jean-Marie Le Pen transforma em vantagem política o facto de ser uma mulher, defende politóloga.

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Marine e o pai, Jean Marie Le Pen; agora estão zangados Reuters

A presença de Marine Le Pen na segunda volta das presidenciais foi apresentada demasiado cedo como uma fatalidade, e isso condicionou toda a eleição, defende a politóloga Frédérique Matonti, professora de Ciência Política da Universidade Paris I. “O debate focou-se em quem a iria enfrentar. O tema dominou as primárias da direita: por isso houve eleitores de esquerda que foram votar em Alain Juppé. E na esquerda houve todo um debate sobre quem seria o candidato útil. Isto perturbou completamente o jogo eleitoral, e quem beneficiou foi Emmanuel Macron”, disse ao PÚBLICO.

Em todo o processo eleitoral - primeir ae segunda volta -, não se expôs devidamente as consequências práticas das propostas de Marine Le Pen, como a saída do euro, afirma a politóloga. O debate com Macron foi um momento raro, em que Le Pen mostrou evidentes fragilidades.

“Se Marine Le Pen está na segunda volta, é porque é herdeira do pai, à frente de um partido muito particular, muito arcaico na sua organização, com muito poucos quadros, pouca democracia interna”, diz Matonti, usando uma expressão que deixa Le Pen furiosa - ela gosta é de dizer que se há um herdeiro, é Macron, de François Hollande. “Mas se não fosse uma herdeira, não haveria motivo para Le Pen estar onde está. Vimos no debate a sua grande incompetência nos temas económicos, e tem várias características problematicas em termos políticos. Florian Philippot [o seu vice] é bem mais eficaz e competente.”

As mulheres políticas costumam ter uma vida duplamente complicada - viu-se com a candidatura da socialista Ségolène Royal à presidência, em 2007, face a Nicolas Sarkoy. “São tratadas pelo nome próprio, fala-se da sua vida privada, dos seus filhos, da relação que têm com os seus companheiros. Mas tudo o que poderia ser complicado para uma mulher política tem dado vantagem a Le Pen”, diz a politóloga.

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