Inovar com urgência no ensino superior

Precisamos de modelos académicos mais inovadores que relacionem o ensino em sala com o seu exterior.

Repensar o ensino superior nacional pressupõe, numa primeira fase, enquadrar e circunscrever a sua missão. A sociedade tem criado expectativas sobre o sector do Ensino Superior que extravasam em muito as que existiam aquando da sua criação, da sua expansão e da sua consolidação tal como a que hoje conhecemos. O ensino superior está umbilicalmente ligado com o conhecimento, a especialização científica e o trabalho técnico, a preparação dos jovens e da população em geral para o mercado de trabalho. Está ainda ligado com a inovação, o enriquecimento económico, a mobilidade social, a igualdade de oportunidades, entre muitos outros fenómenos da nossa sociedade.

Na verdade, o ensino superior e a ciência desenvolvem o conhecimento e a inovação, dando espaço ao empreendedorismo. O ensino superior é, por esta via, indutor do desenvolvimento social e económico, pela valorização do capital humano, científico e tecnológico, concretizando os preceitos da Constituição da República Portuguesa (CRP) que, por exemplo, no seu art.º 76.º, n.º 1, nos refere a necessidade de “ter em conta as necessidades em quadros qualificados e a elevação do nível educativo, cultural e científico do país”, articulando a política de educação com as demais políticas públicas.

Contudo, o nível médio de qualificações da população portuguesa e´ ainda reduzido, designadamente no contexto da União Europeia (UE), o que constitui um entrave ao desenvolvimento social e económico do país, apesar de se reconhecer o esforço realizado nas últimas décadas na qualificação da população portuguesa. Por exemplo, a percentagem da população portuguesa na faixa etária dos 30-34 anos com qualificação ao nível do ensino superior passou de 11,7% em 2001 para 31,3% em 2014. Contudo, devemos sublinhar que existe ainda um longo caminho a percorrer para atingirmos a meta de dispormos de 40% da população na faixa etária dos 30-34 anos com qualificação ao nível do ensino superior em 2020.

A taxa de diplomados do ensino superior duplicou nos últimos 11 anos, o que é revelador dos bons resultados obtidos por Portugal no âmbito da sua política de massificação do acesso ao ensino superior. Estes resultados foram fruto de várias medidas desenvolvidas por sucessivos governos, no sentido de promover o alargamento do universo potencial de candidatos ao ingresso no ensino superior. Tal evolução positiva foi comum a todas as regiões do país, tendo, em geral, sido mais acentuada nas regiões que apresentavam a` partida maiores atrasos.

Contudo, ao nível da formação da população é preciso ainda considerar o desajustamento entre as qualificações oferecidas à população e as necessidades do mercado de trabalho. Precisamos de racionalizar a oferta formativa no ensino superior, adaptando-a mais às necessidades do mercado de trabalho, reforçando o desenvolvimento de competências especializadas em domínios emergentes e apoiando o desenvolvimento de programas inovadores de qualidade com vista a aproximar as ofertas e os modelos de ensino do ensino superior às necessidades da nossa sociedade no século XXI.

Nesse sentido, necessitamos de modelos académicos mais inovadores que relacionem cada vez mais a aprendizagem e o ensino em sala com o seu exterior, nomeadamente com as empresas e outras organizações da sociedade civil, tratando, discutindo e resolvendo problemas reais aplicados que interliguem cada vez mais a educação com a investigação, com as novas tecnologias e com a globalização, i.e. juntando estudantes, professores e investigadores com empresas e pessoas da sociedade civil, mas tudo numa escala cada vez mais internacional e global.

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