Governo afegão sabia do bombardeamento, Karzai denuncia experiência de nova arma

O objectivo do lançamento da bomba era acabar com um sistema de túneis do Daesh. Esta foi a primeira vez que a bomba foi detonada em contexto de batalha.

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Reuters/OMAR SOBHANI

O Governo afegão afirmou na quinta-feira que estava em contacto com os Estados Unidos e foi informado do lançamento em Nangarhar, no Leste do país, de uma bomba GBU-43, encontrando-se a avaliar o resultado do bombardeamento.

"O Governo afegão estava em contacto e informado do ataque aéreo por forças norte-americanas no distrito Achin, em Nangarhar", indicou na rede social Twitter Shah Hussain Murtazavi, porta-voz do Presidente afegão, Ashraf Gani. O bombardeamento foi executado esta quinta-feira às 19h32 locais (16h02 de Lisboa).

O assessor de imprensa da Casa Branca, Sean Spicer, disse que o objectivo era acabar com um "sistema de túneis" do grupo radical autodesignado por Estado Islâmico, que permitia aos seus militantes "mover-se com liberdade e atacar com mais facilidade os militares norte-americanos e as forças afegãs".

Uma das primeiras vozes ouvidas contra esta acção militar foi a do ex-Presidente afegão Hamid Karzai. "Nós temos de ser mais duros e de forma veemente condeno o lançamento da última arma, a maior bomba não-nuclear, no Afeganistão, pelos EUA", escreveu Karzai, na rede social Twitter.

O homem que dirigiu o Afeganistão entre 2004 e 2014 afirmou que "esta não é uma guerra contra o terror, mas o uso equivocado, desumano e mais brutal do país (Afeganistão) como terreno de experiência de novas e perigosas armas". O Governo afegão afirmou esta semana que o número de militantes do Estado Islâmico no país é inferior a 400 e que em 2016 abateu cerca de 2500 membros deste grupo, reduzindo a sua presença no país a duas das 34 províncias.

A missão da NATO no Afeganistão informou na semana passada que nos últimos dois anos os efectivos do grupo foram reduzidos para metade e o território que controla no país para menos de 40%.

A bomba GBU-43 (Massive Ordnance Air Blast - MOAB), que os Estados Unidos lançaram na quinta-feira no Afeganistão, pesa 9,5 toneladas, das quais 8,4 são explosivos, e consegue uma explosão com um diâmetro de 1,4 quilómetros. Conhecida como "a mãe de todas as bombas", foi desenvolvida para o Exército norte-americano por Albert L. Weimorts Jr., e começou a ser fabricada em 2001 no Laboratório de Investigação da Força Aérea.

Trata-se de uma bomba com um comprimento de 9,2 metros e um diâmetro de um metro, pesando 9,5 toneladas, dos quais 8,4 toneladas são explosivos de alta potência. O impacto provocado pela onda de choque da sua explosão é capaz de alcançar uma distância de 1,5 quilómetros do epicentro.

A bomba foi lançada esta quinta-feira pela primeira vez em combate, uma vez que até agora apenas foi sujeita a ensaios, o primeiro dos quais em 2003 na Base da Força Aérea Englin, na Flórida. Um outro teste foi realizado a 21 de Novembro do mesmo ano.

Uma das principais características desta bomba é a capacidade de atingir grandes profundidades e destruir construções, como túneis. A bomba GBU-43 consegue atingir túneis com grande precisão, tendo sido esta a razão da sua escolha, já que, segundo o general John W. Nicholson, comandante das forças norte-americanas no Afeganistão, os jihadistas têm estado a trabalhar em defesas subterrâneas em bunkers.

Esta bomba não nuclear é considerada a segunda mais poderosa das armas convencionais, só ultrapassada pelo explosivo russo FOAB, conhecido como "o pai de todas as bombas".

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