"Ups!" Estudo diz que se estragam mais telemóveis quando surgem novos modelos

Investigadores sugerem que utilizadores negligenciam aparelhos (e outros produtos) para terem uma desculpa para ir às compras.

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Os inquiridos mudavam de telemóvel, em média, a cada quinze meses Reuters/EDUARDO MUNOZ

Esquecer o smartphone no café, deixá-lo escorregar das mãos, ou perdê-lo num táxi são acidentes, mas acontecem com mais frequência quando há um novo modelo no mercado. O fenómeno é posto à prova num estudo de uma equipa de investigadores norte-americanos: chamam-lhe o “efeito upgrade”.

O efeito é comum no mercado dos smartphones, com grandes marcas como Samsung e Apple a lançarem novos topos de gama quase todos os anos. Muitos consumidores querem os modelo mais recentes, mas sentem-se culpados com o investimento se o anterior ainda está a funcionar. Porém, se o telefone estiver estragado são obrigados a comprar o novo modelo sem sentimentos culpa. Os investigadores acreditam que esta lógica motiva as pessoas a terem atitudes mais descuidadas para com os aparelhos, sem se aperceberem disso.

Para testar a teoria, os três investigadores (das universidades de Columbia, Harvard e Michigan) começaram por avaliar a preocupação das pessoas em encontrar iPhones perdidos. Todos os telemóveis no mundo vêm com um número único, conhecido como IMEI. O estudo recorreu a um site no qual os donos de aparelhos perdidos podem introduzir o IMEI e ver se alguém o consegue encontrar. Ao consultar o registo de iPhones no site entre 2010 e 2015 – um total de 2840 aparelhos perdidos em 119 países – descobriram que menos pessoas usavam o site para procurarem os seus iPhones através do IMEI quando um novo modelo estava prestes a ser lançado, ou estava disponível há pouco tempo. As conclusões vão ser publicadas no Journal of Marketing and Research, uma publicação académica.

Depois, inquéritos a 602 donos de telemóveis de diferentes marcas – todos dos EUA e a maioria a utilizar aparelhos da Samsung, Apple e LG – também mostraram que a disponibilidade de um novo modelo no mercado motiva a negligência face aos aparelhos actuais. A tendência mantinha-se independentemente do preço, da forma como os telemóveis eram adquiridos, e de terem ou não garantia. Em média, os inquiridos mudavam de telemóvel a cada quinze meses e cerca de 58% dos participantes disseram que o novo modelo que queriam já estava no mercado. 

O “efeito upgrade” não é exclusivo do mercado de smartphones. Os autores testaram-no em vários produtos, como canecas, pastas de dentes (que se gastam mais rapidamente quando uma nova pasta é anunciado), perfumes e óculos. A conclusão dos autores é geral: “Há um novo fenómeno de negligência motivada” em produtos dentro e fora da área da tecnologia, e contrariamente à ideia predominante de que os consumidores valorizam e estimam os seus bens, existe “comportamento negligente quando há um novo produto no mercado.”

Para prevenir o efeito de negligência face a smartphones e aparelhos electrónicos "desactualizados", os autores sugerem que sejam doados a outras pessoas que precisem deles.

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