Tribunal britânico contraria pais e autoriza hospital a desligar máquinas de bebé

Charlie Gard nasceu em Agosto e sofre de uma doença raríssima que o deixou com danos cerebrais irreversíveis. Os pais queriam uma última hipótese: um tratamento experimental nos Estados Unidos. O tribunal recusou.

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Chris Gard e Connie Yates, os pais à entrada para uma sessão no tribunal, dia 5 de Abril. O pai leva um peluche do filho no bolso do casaco Reuters/EDDIE KEOGH

“Não!”, exclamou Chris Gard ao ouvir a sentença do juiz Justice Frances, que lhe negou a ele, pai de Charlie Gard, e a Connie Yeates, sua mãe, uma última tentativa de salvar o filho – tentativa que era, segundo todos os especialistas, desesperada e condenada ao fracasso.

Nascido a 4 de Agosto último, Charlie Gard sofre de uma raríssima doença, o síndrome de depleção mitocondrial, que afecta a capacidade das células gerarem energia, provocando o enfraquecimento dos músculos e, progressivamente, danos cerebrais. Charlie, internado no Great Ormond Street Hospital, em Londres, já perdeu as capacidades motoras, a visão e a audição e apenas sobrevive através de respiração e alimentação assistida. É um dos 16 pacientes da doença diagnosticados em todo o mundo.

Os médicos do Great Ormond Street Hospital consideram que as máquinas que mantêm Charlie vivo devem ser desligadas, dado não haver qualquer possibilidade de recuperação, pela irreversibilidade das lesões cerebrais. Acresce a isso que Charlie continua a sentir dor, apesar de não o conseguir manifestar. Apesar da condição desesperada do filho, os pais desejavam levá-lo aos Estados Unidos para ser submetido a um tratamento experimental. Para o efeito, recorreram a uma plataforma de angariação de fundos online, conseguindo reunir 1,2 milhões de libras (cerca de 1,13 milhões de euros).

“Com o maior dos pesares, mas com total convicção”, o juiz Justice Francis sentenciou no Alto Tribunal de Justiça do Reino Unido, esta terça-feira, que os médicos do Great Ormond Street Hospital estavam autorizados a eliminar o tratamento do bebé, com excepção dos cuidados paliativos, para “permitir a Charlie morrer com dignidade” – foi então que Chris Gard, o pai, exclamou “não!”, enquanto a mãe enterrava a cabeça entre os braços chorava a decisão da justiça. Chris e Connie têm três semanas para decidir se interporão recurso contra a sentença agora pronunciada, durante as quais Charlie continuará a receber o mesmo tratamento que até aqui.

O diagnóstico médico sobrepôs-se à vontade dos pais na defesa daquilo que é o melhor para a criança, considerou o tribunal. Na leitura da sentença, o juiz elogiou a dedicação dos pais ao filho e a coragem e bravura com que lidaram com a sua doença, mas acentuou que tanto os médicos ingleses, como especialistas de Barcelona convidados a pronunciarem-se sobre o caso de Charlie, foram unânimes: as lesões cerebrais são irreversíveis, sem qualquer hipótese de recuperação. Mesmo o médico americano a que os pais desejavam recorrer para ter acesso a um tratamento experimental que, neste momento, não chegou ainda sequer à fase de testes com animais, considerou ser “muitíssimo improvável que ele [Charlie] melhore”, concordando que a recuperação cerebral é uma quase impossibilidade, relata o Guardian.

Antes de a sentença ser conhecida, Connie Yates dissera à BBC que, enquanto mãe, queria simplesmente o direito a uma “oportunidade”: “Nunca seria uma cura, mas pode ajudá-lo a viver. Se o salvar, magnífico. Quero salvar outros. Mesmo que o Charlie não sobreviva, não quero que outra mãe ou pai tenham que passar por isto”.

Chris Gard e Connie Yates declararam anteriormente que, caso o tribunal lhes negasse autorização de submeter o filho ao tratamento experimental nos Estados Unidos, iriam utilizar o dinheiro angariado na criação de um fundo para investigação da doença.

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