"A Suécia está de luto, mas vamos ultrapassar isto juntos”
Primeiro-ministro diz que terroristas "não vão conseguir" mudar o modo de vida dos suecos. Polícia diz que suspeito detido, nascido no Uzbequistão, já tinha aparecido no seu radar.
Luto e desafio: a Suécia chorava as vítimas no ataque com um camião numa das principais ruas da capital, Estocolmo, mas o primeiro-ministro repetiu uma mensagem clara: “Os terroristas querem-nos enfraquecer, querem que mudemos os nossos comportamentos, querem impedir-nos de viver normalmente”, disse o primeiro-ministro, Stefan Löfven. “Não vão conseguir.”
Stefan Löfven falou depois de deixar flores no local onde aconteceu o ataque de sexta-feira, em que um camião ziguezageou a alta velocidade por uma das principais ruas comerciais da capital, atingindo transeuntes, matando quatro pessoas e deixando várias feridas com gravidade – dez feridos ainda estavam hospitalizados em estado grave, incluindo uma criança. A princesa herdeira Victoria também esteve no local para deixar uma flor. “A sociedade sueca baseia-se numa confiança enorme sobre a comunidade, a solidariedade”, disse.
Testemunhos do dia do ataque focaram-se no horror de um camião que conduzido a alta velocidade com o objectivo de causar o máximo de vítimas. Mas também sobre algo que aconteceu quando os transportes públicos ficaram paralisados e muitas pessoas não tinham maneira de chegar a casa: entreajuda.
Bitte Hammargren, editora e analista do Instituto Sueco de Assuntos Internacionais, comentava no Facebook: “Estamos profundamente tristes pela perda de vidas mas confortados por toda a bondade que muitos mostraram”, partilhando uma imagem de uma mulher idosa a ser acompanhada por um polícia que a amparava a andar. “Esta fotografia mostra a atmosfera. E quando não havia transportes públicos milhares e milhares andaram até casa. Cenas de resiliência.”
“A Suécia mostrou-se no seu melhor, na entreajuda, apoio, ao abrir as nossas casas aos outros”, declarou o primeiro-ministro - muitas pessoas ofereceram as suas casas a quem vivia mais longe e não conseguia andar até lá. “Isso mostra também a nossa força, e esta força é algo que ninguém nos pode tirar. A Suécia está de luto, mas vamos ultrapassar isto juntos”, garantiu. O dia de luto oficial está marcado para segunda-feira, quando será observado um minuto de silêncio.
As autoridades foram dando informações a pouco e pouco, e em conferência de imprensa, anunciaram que um suspeito detido, nascido no Uzbequistão, de 39 anos, já era conhecido das autoridades.
Ainda não há reivindicação
O responsável pelos serviços de segurança interna (Säpo), Anders Thornberg, disse que o suspeito tinha aparecido nas bases de dados, mas não foram encontradas, na altura, ligações a qualquer grupo extremista.
A imprensa noticiou que era simpatizante do Daesh. A Suécia é um dos países europeus de onde saíram mais combatentes para se juntar a grupos radicais na Síria e Iraque – em 2015, seriam cerca de 300. O Säpo avisava, já este ano, que um dos desafios de segurança era que o Daesh incentivava cada vez mais os simpatizantes a levar a cabo ataques nos seus países em vez de saírem para combater no Médio Oriente.
O atentado de sexta-feira não foi reivindicado; algo que no caso do Daesh é comum se o atacante não morreu – pensa-se que a razão é a reivindicação poder prejudicar o acusado num processo judicial. Os últimos atentados usando veículos na Europa – Nice, Berlim, Londres – foram reivindicados pelo grupo terrorista.
O chefe da polícia nacional, Dan Eliasson, disse por sua vez que está cada vez mais confiante de que o suspeito detido é, de facto, o responsável do ataque. “Nada aponta para a hipótese de termos a pessoa errada, pelo contrário, as suspeitas têm aumentado à medida que a investigação avança.”
A polícia disse ainda que encontrou um “engenho” suspeito no lugar do condutor do camião. “Nesta altura é impossível dizer o que é”, declarou Eliasson. “Apenas que é algo que não deveria lá estar.”
O preço de uma sociedade aberta
“É muito difícil [impedir um ataque] quando se trata de um indivíduo sozinho que não faz parte de um grupo maior ou de um planeamento mais organizado”, sublinhou Thornberg.
O antigo primeiro-ministro Fredrik Reinfeldt argumentou que uma sociedade aberta tem de aceitar este risco: “O preço de uma sociedade aberta é que é muito difícil protegermo-nos desde tipo de iniciativas levadas a cabo por uma só pessoa”, declarou à BBC Radio 4. O debate pode ser agora sobre se é aceitável um aumento de câmaras de vigilância, antecipou Reinfeldt.
A Suécia, onde haverá eleições legislativas no próximo ano, foi o país que mais refugiados recebeu per capita em 2015, mas acabou por apertar as regras para conceder asilo e impôs alguns controlos fronteiriços, sob pressão de uma crescente popularidade do partido nacionalista Democratas Suecos, que é já a segunda força política nas sondagens.