CGD: DBRS considera plano ambicioso e com vários riscos

A agência de 'rating' DBRS afirmou hoje que o plano de reestruturação da Caixa Geral de Depósitos (CGD) é "muito ambicioso", considerando que há vários riscos que podem comprometer o regresso aos lucros em 2018.

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Rui Gaudencio

"Alguns dos objectivos principais do plano são, do ponto de vista da DBRS, muito ambiciosos, sobretudo quanto à expectativa de melhoria significativa da qualidade dos activos e ao regresso do banco aos lucros em 2018", afirma a agência de notação financeira num comunicado divulgado esta quarta-feira.

Para a DBRS, o novo plano estratégico do banco tem vários "desafios de execução, relacionados com o sucesso da redução dos activos problemáticos, que colocam em risco o regresso do banco à rentabilidade no médio prazo", isto é, que podem pôr em causa o regresso aos lucros em 2018.

Um dos objectivos principais previstos no plano é a redução para metade do rácio desses activos problemáticos nos balanços dos bancos: de 16%, reportado no final do ano passado, para 8% no final de 2020.

"Esta é uma meta ambiciosa, sobretudo se considerarmos que o banco não demonstrou uma redução bem sucedida desses rácios em termos anuais até à data", considera a DBRS.

Outra prioridade da CGD é a redução de activos internacionais, de 23.000 milhões de euros (em 2016) para 12.000 milhões de euros. E, sobretudo em Portugal e em alguns mercados de língua portuguesa, o corte de 20% nos custos base nos próximos três anos (através do encerramento de cerca de 180 agências e da saída de 2.200 trabalhadores).

No entanto, para a DBRS, estas medidas do lado da despesa não chegam: "Embora as iniciativas de redução de custos sejam importantes para regressar aos lucros sustentáveis, acreditamos que também devem ser tomadas medidas do lado da receita", defendem os analistas da agência de rating canadiana.

Por fim, outro dos riscos apontados pela DBRS está na emissão de dívida perpétua de 500 milhões de euros, prevista para as próximas semanas, uma vez que a agência considera que "é provável" que o banco público "pague um custo de financiamento adicional" por este instrumento, que pode "pesar no regresso aos lucros sustentáveis".

A DBRS atribui um 'rating' BBB, o nível mais baixo de investimento, à CGD, uma nota que está sob revisão e tem implicações negativas. Durante o período de revisão, a DBRS vai focar-se no processo de recapitalização, incluindo a colocação de dívida subordinada a investidores institucionais, bem como nos aspectos de governação do banco, na qualidade dos seus activos e nos desafios de rentabilidade.

A agência estima concluir o processo de revisão depois de concluída a recapitalização e quando for conhecida mais informação da implementação do plano estratégico.

A CGD está em processo de recapitalização, num montante de quase 5.000 milhões de euros, aprovado entre o Governo português e a Comissão Europeia, depois de ter apresentado um prejuízo histórico de 1.859 milhões de euros em 2016.

Depois da transferência, em Janeiro, de acções da ParCaixa para a CGD no valor de 500 milhões de euros e de instrumentos de capital contingentes (CoCo's) subscritos pelo Estado, incluindo juros corridos e não pagos, no valor de 945 milhões de euros, a próxima fase do processo é o aumento de capital em 2.500 milhões de euros, que será injectado pelo Estado no banco.

Por fim, a CGD vai realizar uma emissão de dívida num total de 930 milhões de euros, "elegível para efeitos de cumprimento dos rácios de capital regulatório", dos quais 500 milhões a breve trecho (ainda em Março) e o restante até 18 meses após a primeira emissão.

Termina hoje o roadshow [apresentação] da CGD com investidores, que teve início na segunda-feira, para apresentar a emissão obrigacionista do banco de 500 milhões de euros.

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