Tecnologia é motor de criminalidade organizada na União Europeia, diz Europol

Número de grupos de crime organizado aumentou 28% na União Europeia desde 2013, e as evoluções tecnológicas estão na base do problema.

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O número de grupos de crime organizado na União Europeia aumentou 28% ENRIC VIVES-RUBIO / PUBLICO

A tecnologia foi descrita como o motor da criminalidade organizada na União Europeia pelo Serviço Europeu de Polícia (Europol). A utilização das novas ferramentas tecnológicas pelos criminosos foi apontada como uma preocupação crescente no mais recente relatório de criminalidade organizada da Europol, publicado esta quinta-feira.

Desde 2013, o número de grupos de crime organizado a operar na União Europeia aumentou 28% (há mais 1400 grupos em 2017) e uma das culpadas é a cibercriminalidade. “Os criminosos sempre foram capazes de tirar partido da tecnologia. Porém, a taxa de inovação tecnológica e a habilidade de redes de crime organizado se adaptarem a esta tecnologia tem aumentado progressivamente ao longo dos últimos anos,” diz o director da Europol, Rob Wainwright, em comunicado. Wainwright acredita que o aumento de grupos se deve, em parte, devido à mudança dos mercados criminosos, “com o surgimento de grupos mais pequenos e empreendedores individuais que se dedicam a actividades criminosas, especialmente as que ocorrem online.”

A utilização de canais com comunicação encriptada e o desenvolvimento de drones cada vez mais baratos são ferramentas cada vez mais utilizadas pelos criminosos que dificultam o trabalho das autoridades. A Europol recomenda um maior foco em crimes que envolvem a tecnologia, em particular, a fraude de documentos, a lavagem de dinheiro, e o tráfico de serviços e bens ilegais online. Estas três áreas estarão na base de quase todos os crimes organizados como o tráfico humano e o narcotráfico.

 “Os criminosos, à semelhança dos comerciantes legítimos, estão a procurar formas para expandirem os seus negócios online,” lê-se no relatório da Europol. Segundo esta autoridade, as darknets, que são redes que permitem a navegação online em privado, são uma das maiores ferramentas dos criminosos. Embora estas redes tenham sido desenvolvidas com o objectivo de proteger a privacidade e o sigilo de determinadas actividades profissionais, são crescentemente utilizadas para esconder a identidade de quem pratica actividades ilícitas.

Em Janeiro de 2017, o Tor – um browser que permite navegação anónima e aceder à darknet – tinha 60 mil sites activos a conectar 1,7 milhões de utilizadores. Porém, de acordo com um estudo citado pela Europol, 57% destas páginas estavam relacionadas com actividades ilegais. Um dos grandes problemas era a circulação de material de abusos sexuais a menores.

Porém, a cibercriminalidade não vive exclusivamente destas redes privadas. As aplicações e plataformas online de partilha de fotografias são utilizadas cada vez mais para encontrar informação sobre vários tipos de drogas ilegais. “Os clientes interessados percorrem as imagens dos produtos anunciados e contactam o distribuidor de forma privada utilizando mensagens directas,” lê-se no relatório. A Europol acrescenta que equipamento, sementes e outra matéria-prima para o cultivo de canábis na União Europeia está facilmente acessível na Internet e vem, frequentemente, dos Países Baixos.

As redes sociais também são cada vez mais utilizadas para o contrabando de pessoas, uma actividade que se tem tornado mais lucrativa à medida que as guerras e as agitações no Médio Oriente e em África levam milhares de pessoas a querer vir para o continente europeu. Segundo a Europol, só em 2016 ocorreram cerca de 510 mil cruzamentos ilegais para a União Europeia. A actividade é facilitada pela Internet, ao permitir que os contrabandistas contactem os migrantes e refugiados em grupos online e auxiliem com a falsificação de documentação necessária.

A Europol acentua que a Internet não é a única motivadora da cibercriminalidade, que evolve todo o tipo de inovações tecnológicas, incluindo sistemas automatizados, drones e até impressoras cada vez mais avançadas.

Texto editado por João Pedro Pereira

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