O português que vai liderar o segundo maior grupo automóvel europeu

Carlos Tavares é um apaixonado por carros, fez grande parte da carreira na Renault e é desde 2014 o líder da PSA.

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Carlos Tavares, presidente executivo da PSA, durante a conferência de imprensa para formalizar a compra da Opel Reuters/CHRISTIAN HARTMANN

O português Carlos Tavares, de 58 anos, prepara-se para liderar o segundo maior grupo automóvel europeu, depois de a PSA (grupo francês que detém as marcas Peugeot e Citröen) ter formalizado nesta segunda-feira a compra da Opel à General Motors (GM). O negócio de 2200 milhões de euros foi anunciado numa conferência de imprensa, em Paris, por Carlos Tavares, presidente executivo da PSA, e por Mary Barra, a líder da GM.

Engenheiro apaixonado desde cedo por automóveis, Carlos Tavares assumiu a liderança da PSA em Janeiro de 2014 e conseguiu, em apenas três anos, transformar a empresa, deixando para trás anos de prejuízos.

Antes de chegar ao grupo que agora dirige, Tavares fez uma grande parte da sua carreira na Renault, para onde entrou em 1981 como engenheiro de testes e onde esteve mais de 30 anos. Até ao Verão de 2013, foi o número dois da empresa e o responsável pela área operacional, depois de ter passado quatro anos na Nissan, nos Estados Unidos.

Cansado de esperar que Carlos Ghosn resignasse para lhe suceder no cargo, a ambição – uma das características que lhe apontam – falou mais alto e Tavares acabou por deixar a Renault. O desejo de voos mais altos foi claramente assumido em Agosto de 2013, quando, numa entrevista à agência Bloomberg, afirmou que há sempre um momento em que um gestor quer ser “o número um” de uma companhia automóvel global. A frase não agradou a Ghosn, valendo-lhe a saída da Renault e, poucos meses depois, um convite para liderar a principal rival: a PSA.

Tavares colocou a empresa debaixo de um rigoroso plano de contingência, que poderá ser replicado na Opel, com redução de postos de trabalho, congelamento de salários em troca da promessa de manter as fábricas activas e reduzindo as gamas menos lucrativas.

A disciplina e a eficácia são outras das características que lhe são apontadas, como nota o diário francês Libération, algo que Tavares exige igualmente aos colaboradores mais próximos, reduzindo ao mínimo o tempo das reuniões e das pausas para almoço e banindo os documentos em papel.

Em 2016, o salário anual de 5,25 milhões de euros, que praticamente duplicou face a 2015, foi contestado pelos sindicatos e pelos representantes do Estado francês, que detém uma participação na PSA. A polémica motivou mesmo comentários do então primeiro-ministro francês Manuel Valls, que lamentou o aumento do salário do gestor, alertando que a recuperação do grupo foi feita também à custa dos funcionários. 

Contudo, o líder da PSA é conhecido pelos hábitos austeros e considera-se "o mais sindicalista dos sindicalistas" – como disse numa entrevista ao El Mundo –, porque, garante, desde que assumiu os destinos do grupo, a preocupação tem sido "preservar a empresa e os trabalhadores".

Carlos Tavares nasceu em Lisboa a 14 de Outubro de 1958. Filho de uma família portuguesa de classe média, estudou no Liceu Francês, onde a mãe era professora. Depois de concluir o ensino secundário rumou a Toulouse para fazer um curso de preparação científica que o levaria, em 1978, à conceituada École Centrale de Paris, onde se licenciou em Engenharia.

Os automóveis sempre foram a sua paixão. Em adolescente, trabalhou no Autódromo do Estoril, enchendo os olhos com os Ferrari e os Lotus do belga Jacky Ickx e do brasileiro Emerson Fittipaldi.

A paixão mantém-se. Conhecido como o car guy, na garagem de casa estão estacionados alguns clássicos, que usa para participar em corridas de automóveis e cuja manutenção é feita ao fim-de-semana pelo próprio engenheiro. Pai de três filhas, é à mais velha, Clémentine, que se deve o nome da equipa pela qual corre: a Clementeam.

Como nota outro diário francês, o Le Monde, num perfil publicado nesta segunda-feira, há poucos líderes da indústria automóvel que conhecem de forma tão aprofundada como se concebe, produz e comercializa um carro. Um conhecimento que, refere, o torna um presidente executivo com características especiais.

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