À 56.ª ponte em Suzhou, a China volta a criticar as réplicas de monumentos estrangeiros

O debate sobre a prática chinesa de copiar marcos de outros países foi reavivado. No centro da nova polémica está uma réplica da Tower Bridge.

 A ponte de Suzhou foi encomendada pelo governo distrital da cidade de Xiangcheng, por volta de 2008
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A ponte de Suzhou foi encomendada pelo governo distrital da cidade de Xiangcheng, por volta de 2008 Reuters/China Stringer Network
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Um empregado de limpeza na frente de um edifício que compõe o luxuoso Chateau Laffitte Hotel, uma imitação do Chateau Maisons-Laffitte de 1650 pelo arquiteto francês François Mansart, localizado na periferia de Pequim Reuters/David Gray
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Uma imitação do Templo de Karnak no Egito, no parque abandonado Wanguo em Wuhan, na província de Hubei Reuters/Stringer
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A Grande Esfinge de Gizé está replicada em duas cidades chinesas. Esta é a de Chuzhou, na província de Anhui Reuters/China Daily
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Um canal flui através do centro da vila de Florentia, situada nos arredores da cidade de Tianjin. Os edifícios da vila copiam a arquitetura antiga em estilo italiano com arcadas florentinas Reuters/David Gray
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Um trabalhador da construção civil circula na réplica da vila de Hallstatt, na Áustria, património da UNESCO, em Huizhou, na província de Guangdong Reuters/Tyrone Siu
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"Pequena Paris" é o nome de uma imitação da cidade francesa, em Zhengzhou, que inclui a Torre Eiffel, o Arco de Triumfo e o Campo de Marte Reuters/Stringer
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Um centro de vendas feito à imagem da Pirâmide do Museu do Louvre, no município de Chongqing Reuters/Stringer
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A Sydney Harbour Bridge também tem uma réplica em Pequim, além daquela localizada em Suzhou. Esta, contudo, está acompanhada por uma cópia da Ópera de Sydney Reuters/David Gray
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Um edifício do governo, em Pequim, que se assemelha ao Kremlin de Moscovo Reuters/Stringer
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Réplicas das estátuas Moai da Ilha de Páscoa, num distrito empresarial em Pequim Reuters/Kim Kyung-Hoon
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Uma réplica do Coliseu de Roma, em Macau Reuters/Paul Yeung
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Um trabalhador chinês passa por uma imitação da Torre de Pisa, em Xangai Reuters/China

A famosa Tower Bridge que se estende sobre o rio Tamisa, em Londres, tem uma irmã gémea (ou quase) chinesa. A Tower Bridge de Suzhou, cidade da província chinesa de Jiangsu, foi construída pelo Instituto Municipal de Design e Engenharia de Suzhou e adaptada à paisagem urbana local. Esta versão do marco londrino tem quatro torres, em vez de duas, varandas flutuantes verticais para maximizar a vista panorâmica e acomoda dois cafés. A reconhecida ponte de elevação, característica célebre da ponte original, também não foi integrada no projecto.

A ponte é popular entre recém-casados que procuram um cenário europeu mais económico para as suas sessões fotográficas. Contudo, a fama da ponte inaugurada em 2012 cresceu exponencialmente durante esta semana quando vários sites de notícias chineses publicaram fotografias da estrutura. “A espectacular London Tower Bridge de Suzhou: ainda mais magnífica do que a verdadeira”, proclamava um dos títulos.

No entanto, a projecção online da infra-estrutura não foi bem recebida por todos. A actual onda de atenção surge carregada de críticas.

Em entrevista ao The New York Times, o presidente da empresa de arquitectura OAD, sediada em Pequim, questionou a construção da ponte numa cidade tão rica em património arquitectónico próprio. Para Li Yingwu, a ponte é puro plágio. “Fiquei extremamente surpreendido que tenham construído a réplica em Suzhou, porque é uma cidade que tem preservado a sua cultura muito bem”, disse. “Isto mostra que os responsáveis locais não têm confiança na sua própria cultura. Não percebem que a arquitectura é essencialmente sobre a cultura. Não é apenas um objecto.” Li Yingwu é apenas uma das vozes que criticam a opções pelas réplicas de monumentos estrangeiros na China.

A desaprovação que a Tower Bridge chinesa tem enfrentado segue as linhas de pensamento do Presidente chinês. Num discurso de 2014, citado pelo jornal americano The New York Times, Xi Jinping pediu que se parassem de construir "edifícios estranhos". Em Dezembro, num discurso perante a Associação de Literatura e Arte e a Associação de Escritores Chineses, apelou aos artistas para "consolidar a confiança na cultura chinesa".

Apelidada de Veneza do Oriente, Suzhou tem ganhado cada vez mais exposição mediática com as suas imitações de pontes. Num total de 56, as réplicas incluem a Harbour Bridge de Sydney e a Pont Alexandre III de Paris. Tal como a Tower Bridge chinesa, estas pontes têm modificações comparativamente às suas parentes mais antigas.

A Harbour Bridge de Suzhou tem um terço do tamanho da original e é feita de granite, o que significa que o preço e o tempo de construção foram menores. Por sua vez, o ferro que dá forma à Pont Alexandre III foi substituído por cimento na sua versão asiática.

Mas esta não é a primeira cidade chinesa a estar nas bocas do mundo devido a clones de marcos turísticos estrangeiros. As cópias, construídas como manobras publicitárias para atrair negócios e visitantes, estão por todo o lado. Existem cópias da Torre Eiffel, da Grande Esfinge de Gizé e até da Casa Branca. Nada escapa.

Texto editado por Hugo Torres

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