Esquerda e direita acusam-se: quem fez pior à escola pública?

Ministro anunciou 19 milhões de euros para formação de professores.

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O debate foi muito marcado pela ideologia Enric Vives-Rubio

Foi um debate muito ideológico o que aconteceu na manhã desta sexta-feira na Assembleia da República. A polarização esquerda-direita continua bem presente no hemiciclo e os deputados digladiaram-se para saber quem tinha, afinal, feito pior à escola pública. A discussão foi pedida pelo Bloco de Esquerda que, pela voz de Joana Mortágua, defendeu ser preciso mais investimento público na educação e aproveitou para insistir na ideia de que o executivo não deve andar tão preocupado em ser o bom aluno no défice, considerando que ninguém pode ficar orgulhoso de mostrar bons resultados a Bruxelas quando são conseguidos “à custa da escola pública”.

Mas a esquerda aproveitou sobretudo para atacar o anterior Governo de direita pelas políticas concretizadas no sector da educação. Tanto bloquistas como comunistas. E socialistas. Joana Mortágua acusou o anterior executivo, que contou com sucessivas polémicas envolvendo o então ministro da Educação Nuno Crato, de ter sacrificado a escola pública em muitos euros e “erros”. Argumentaram, aliás, que Crato pôs em marcha uma “visão pobre” da educação, fomentando a selecção de alunos e a competição entre escolas, e que o discurso sobre a exigência e a qualidade foi um “embuste”.

Depois de elencar o que vê como os erros do passado, Joana Mortágua fez o elogio do presente, defendendo que esta maioria travou o caminho da direita. Só que esta tónica elogiosa não caiu nada bem à direita. E o social-democrata Amadeu Albergaria fez questão de o deixar claro na sua intervenção (que seria, depois, descrita como “bafienta” pela esquerda).

A realidade diária da falta de condições, da falta de funcionários, da falta de verbas para as simples despesas correntes é o resultado directo do vosso Governo ou melhor...do vosso desgoverno”, atacou logo o deputado, apontando o dedo à bancada do Bloco, que até se riu do que ouvia: “este é Ministério que, com os comunistas ortodoxos, os senhores tutelam. Sim! O Ministério que o PS entregou à extrema-esquerda e a um dirigente sindical obedientemente comunista para poder sobreviver politicamente. Sim, esta é uma acusação. Os senhores usaram os alunos portugueses como moeda de troca para ocuparem o poder.”

Amadeu Albergaria até sugeriu ironicamente aos bloquistas que, quando forem visitar a próxima escola, não façam de conta que são oposição. Isto depois de Joana Mortágua ter dito que esta maioria tem de se comprometer com a resolução de problemas como a falta de assistentes operacionais, as obras necessárias nas escolas, a vinculação dos professores (o ministro garantiu que serão feitas mais vinculações extraordinárias nos próximos anos). E de ter garantido que o Bloco vai apresentar um projecto sobre gestão democrática das escolas e que espera “abertura” nessa discussão.

Às ideias do BE, Amadeu Albergaria abanou a cabeça, aproveitando também para acusar o PS de fazer parte de um “silêncio cúmplice” com “a extrema-esquerda”. “Um silêncio comprado pelo PS, que abandonou e ignorou o seu próprio passado”, disse.

Vários deputados participaram no debate, mas o sentido da guerrilha ideológica foi sempre este. Heloísa Apolónia, d’Os Verdes, acusou o social-democrata de ter uma “visão retrógrada e perigosa” da educação; os comunistas disseram que entregaram um projecto que revoga o regime fundacional, mas também pediram responsabilidades na área ao Governo; o ministro da Educação Tiago Brandão Rodrigues recusou estarem a ser postas em prática alterações abruptas no sector.

E, claro, elencou várias medidas deste executivo como a recente criação de um grupo de recrutamento para professores de língua gestual portuguesa e uma verba de 19 milhões de euros para dar formação (gratuita) aos docentes. Assegurou ainda que a redução do amianto nas escolas é uma prioridade.

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