"Não faz sentido estigmatizar um grupo"

Ex-coordenador nacional para a infecção VIH/sida discorda da norma da Direcção-Geral da Saúde.

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NFACTOS/Pedro Granadeiro

"Não faz sentido nenhum estigmatizar um grupo de portugueses por causa da sua orientação sexual", critica o ex-coordenador nacional para a infecção VIH/sida, o epidemiologista Henrique Barros, para quem não existem razões que justifiquem esta suspensão da dádiva de sangue de homossexuais que tenham tido alegados comportamentos de risco, apesar de notar que é praticada em “muitos” países.

“Ninguém traz um rótulo na testa”, justifica o médico que lembra que, em teoria, os dadores podem mentir quando são sujeitos a uma avaliação prévia.

Seja como for, enfatiza, a dádiva de sangue "não é como meter roupa num cesto”, é um “acto solidário avaliado por um médico” que deve ter o cuidado de filtrar eventuais comportamentos de risco. Por que motivo então é que há tantos países em todo o mundo em que está instituída a suspensão temporária de dadores de sangue que admitam ter tido contactos sexuais com homens que fazem sexo com homens e parceiros ditos de risco? Por causa do chamado “princípio da precaução”, não já por causa do risco de contágio por VIH/sida, "mas porque podem estar em causa outro tipo de infecções ainda não conhecidas", explica o presidente do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto.

Para Henrique Barros, porém, o cerne da questão é que o princípio da precaução deve aplicar-se a comportamentos de risco e não a grupos de risco. “Não se compreende que se discrimine um grupo. Este pensamento é homofóbico e penalizador”, insiste.

Quanto aos dados mais recentes sobre a infecção VIH/sida em Portugal, que indicam que a maior incidência (novos casos) de infecções por VIH em 2015 foi detectada entre homens que fazem sexo com homens, Henrique Barros destaca que o grupo em que a infecção mais tem avançado é o dos jovens homossexuais, porque os mais velhos se habituaram a proteger-se contra a doença. O problema, nota, é que a sida se banalizou, entretanto, e os mais jovens deixaram de usar as formas tradicionais de protecção. Mas, frisa de novo, não é por isso que se deve discriminar um grupo.

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