"Governo feminista" da Suécia defende o uso do véu no Irão

Ministra sueca usou véu em visita ao Irão. O governo afirma que qualquer alternativa quebra as leis iranianas, mas a decisão gerou críticas.

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As representantes do governo sueco a cumprimentar o presidente iraniano, Hassan Rouhani DR

O governo sueco saiu em defesa da ministra do Comércio, Ann Linde, e de membros da sua comitiva que usaram lenços para tapar o cabelo durante uma visita ao Irão, na semana passada. Linde justifica que agir de outra forma seria violar a lei iraniana. No entanto, a governante escandinava tem enfrentado críticas, e algumas delas vêm de mulheres iranianas e de membros dos partidos que apoiam o Executivo, que se intitula como o primeiro “governo feminista” do mundo.

“É desastroso para aquilo a que chamamos uma política externa feminista”, disse o secretário-geral do partido liberal sueco, Jan Bjorklund, citado pelo Aftonbladet. “O véu é um símbolo de opressão das mulheres no Irão” afirmou Bjorklund, acrescentando que não se trata apenas de um aspecto cultural “mas de opressão legislada contra as mulheres”.

Na opinião do líder dos liberais, as mulheres suecas não deviam usar hijab nas visitas ao Irão – e caso fossem obrigadas, os acordos de comércio deviam ser assinados na Suécia ou num país terceiro.

Ann Linde não pensa da mesma maneira. Disse ao sueco Aftonbladet, que a sua alternativa seria enviar uma comitiva exclusivamente masculina. Entre isso e quebrar a lei, a Ministra do Comércio considera que é melhor usar lenço, conforme manda a lei iraniana.

Masih Alinejad, jornalista iraniana e activista, foi uma das vozes críticas que se fez ouvir. Na página do Facebook, My Stealthy Freedom, a activista publicou duas imagens: uma, de 3 de Fevereiro, em que as mulheres do governo sueco assumem uma pose semelhante à de Donald Trump, enquanto Isabella Lövin, vice-primeira-ministra, assina uma lei sobre o clima, e outra, que mostra a comitiva de mulheres, com a cabeça coberta por lenço, a cumprimentar o presidente iraniano, Hassan Rohani.

Na legenda da publicação, Alinejad escreve, usando a primeira pessoa do plural, mas referindo-se ao governo sueco: “Na primeira imagem temos uma fotografia para Trump onde mostramos que as mulheres são iguais e importantes. Apesar desta fotografia, não hesitamos em mostrar ao líder iraniano, na segunda imagem, que os homens são mais iguais e mais importantes! Demonstramos isso porque não nos opomos à lei que obriga o uso de véu quando se visita o Irão”.

A activista continua, desta vez a falar pelas mulheres iranianas, que usam a plataforma para publicar fotografias sem véu: “Gostávamos de reiterar que não queremos que o governo sueco venha salvar as mulheres iranianas”. Mas, se as palavras de Trump merecem condenação, “as leis discriminatórias do Irão também”, acrescenta. Alinejad disse à BBC que “se são feministas e querem saber da igualdade, então devem desafiar a desigualdade em todo o lado”

Na página do Governo sueco em inglês está escrito, na secção sobre igualdade de género, que o governo sueco não só é o primeiro governo feminista do mundo como que este assume um “foco na igualdade de género, tanto a nível nacional como através do trabalho a nível internacional”. “Em última instância, é uma questão de direitos humanos, democracia e justiça”, lê-se.

Em 2015, numa visita à Arábia Saudita depois da morte do rei Abdullah, Michelle Obama optou por não usar lenço. As leis desse país não obrigam mulheres estrangeiras a tapar a cabeça, ao contrário das leis iranianas.Linde já fez saber que não vai usar lenço na próxima visita à Arábia Saudita. Federica Mogherini, Alta Representante da União Europeia para a Política Externa e de Segurança, também usou lenço, à semelhança de Linde, quando visitou o Teerão, em Abril de 2016. 

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