Mochilas pesadas? Pais e directores de escolas defendem livros digitais

Mais de 27.000 pessoas já assinaram uma petição contra o peso das mochilas escolares.

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“Eu todos os dias recebo os meus alunos à entrada da aula e por vezes pego nas mochilas e são pesos descomunais", diz director escolar Nuno Ferreira Santos

Pais e directores de escolas defendem que o ideal seria a aposta nos livros digitais para aliviar o peso nas mochilas dos alunos, mas até lá dizem que o aumento do número de cacifos nas escolas já ajudava.

Mais de 27.000 pessoas já assinaram uma petição contra o peso das mochilas escolares, um número que agrada aos promotores, satisfeitos com a preocupação já manifestada pelos partidos e pelos livreiros, que se mostraram disponíveis para ajudar na solução.

Em declarações à agência Lusa, o actor José Wallenstein, um dos promotores da iniciativa, manifestou agrado com o aumento exponencial de assinaturas nos últimos dias de uma petição que arrancou a meio de Janeiro com o objectivo de atingir as 20.000 assinaturas para ter “alguma dimensão” quando entrar na Assembleia da República.

“Foi excelente este aumento e foi excelente a preocupação manifestada pelos partidos que já vi nalguns jornais”, disse Wallenstein, que pretende agora confirmar que todas as assinaturas estão recolhidas segundo as regras, para que nada falhe aquando da entrega no Parlamento.

“Era importante avançar para o digital. Estamos numa época tão à frente (...) que era importante dar o passo para o livro em formato digital”, defende Filinto Lima, da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos de Escolas Públicas (ANDAEP), que reconhece que as escolas já têm algumas estratégias para aliviar o peso que os alunos carregam todos os dias. “Os cacifos — embora não haja na maior parte das escolas —, para que o aluno não ande todo o tempo a carregar a mochila, o facto de nós, os directores, sempre que possível darmos uma sala à turma para que o aluno quando sai para o intervalo não traga a mochila e também [o facto de] o professor pedir aos alunos o material estritamente necessário para a sua aula” são alguns exemplos, disse.

“Eu todos os dias recebo os meus alunos à entrada da aula e por vezes pego nas mochilas e são pesos descomunais, sobretudo ao nível dos mais pequenos, que têm medo de ter falta de material. Acho que devemos ter cuidado com a saúde dos nossos alunos”, sublinhou Filinto Lima, para quem o problema maior se coloca no 5.º e 6.º ano.

Mochilas com rodinhas são caras

Dotar as escolas de mais cacifos e fazer pedagogia para tentar que os alunos usem mais vezes as mochilas com rodinhas, para não carregarem o peso, são outras das sugestões do responsável da ANDAEP, para quem o ideal era o avançar com o livro digital.

A Confederação Nacional das Associações de Pais (CONFAP) concorda que o livro digital era a solução ideal, mas quanto às mochilas com rodinhas diz que não são o mais aconselhável: estas mochilas com rodas “não têm exactamente as medidas das crianças. Também não estou a ver crianças com 12, 13 e 14 anos a andarem de troley, tal qual andam os juristas para os tribunais, até porque esses troleys não têm um preço assim tão acessível para todas as famílias”, disse à Lusa Jorge Ascensão, da CONFAP.

“O suporte digital, a criação de cacifos para que os alunos possam deixar um conjunto de materiais que não é necessário transportarem diariamente para casa, a par de um modelo de trabalho que também pode ser mais eficaz” são foras de “minimizar muito este problema”, acrescentou.

Para o responsável, “era preciso uma escola diferente da que tínhamos há 20 anos, não só em termos pedagógicos, mas organizativos”. “Chegamos agora a ter os miúdos com 13 disciplinas, o paradigma mudou, e bem, mas o modelo é o mesmo. Temos de mudar o modelo de funcionamento das escolas, percebemos as condicionantes, mas é possível fazer diferente.” Tanto a CONFAP como os directores das escolas apoiam a petição contra o peso das mochilas.

Numa nota enviada hoje às redacções, a Associação Portuguesa de Editores e Livreiros manifesta-se solidária com esta preocupação e diz que os editores escolares “têm investido bastante na procura das melhores soluções no que diz respeito aos manuais”.

A petição é subscrita por especialistas em ortopedia, médicos fisiatras, a Sociedade Portuguesa de Ortopedia e Traumatologia, a Sociedade Portuguesa de Patologia da Coluna Vertebral, Sociedade Portuguesa de Medicina Física e de Reabilitação e pela Confederação Nacional das Associações de País, entre outras organizações.

Os autores pedem urgência na resolução do problema e propõem, entre outras medidas, que se legisle no sentido de definir que o peso das mochilas escolares não deve ultrapassar os 10% do peso corporal das crianças, tal como sugerido por associações europeias e americanas.

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