Testes com carros autónomos mostram que cada vez menos é preciso pôr as mãos no volante

Carros sem condutor do Google percorreram mais de um milhão de quilómetros na Califórnia em 2016. Humanos tiveram de assumir o controlo em 124 ocasiões.

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A Tesla é uma das muitas fabricantes a testar modelos com piloto automático na Califórnia Reuters/BECK DIEFENBACH

As ocasiões em que um condutor humano tem de levar a mão ao volante de um veículo autónomos são cada vez menores, indicam os testes feitos na Califórnia, um dos estados americanos onde a circulação destes automóveis é legal.

Em 2016, os carros automáticos a circular naquele estado somaram mais de um milhão de quilómetros (1.056.330 é o valor exacto), com 2708 ocorrências de intervenção humana imprevista. Os dados estão no último relatório do departamento de veículos a motor da Califórnia, que compila as distâncias percorrridas e os incidentes com as várias marcas de carros que estão autorizadas a ter automóveis autónomos nas estradas. A Waymo, a fabricante de carros da Alphabet, a empresa-mãe do Google, é, muito de longe,a marcas que mais tem avançado o conta-quilómetros, sendo responsável por praticamente todos os quilómetros registados no relatório.

“Os esforços do estado da Califórnia para impor este tipo de estatísticas é um bom primeiro passo no desenvolvimento de um ecossistema de testes transparente para tecnologias avançadas de veículos,” diz Bryan Reimer, cientista do MIT especializado em tecnologia de condução autónoma, em declarações ao PÚBLICO.

Cada marca deve notar as circunstâncias em que os erros ocorreram, detalhar as condições climatéricas, o período de tempo que passou entre o erro e o momento em que o condutor humano tomou controlo manual do carro, e o tipo de rua (auto-estrada, rural, parque de estacionamento), em que o carro estava a circular.

Reportar todos os imprevistos com a tecnologia de carros autónomos é fundamental, defende o director de segurança da Waymo, Ron Medford, que explica, em comunicado, que os momentos em que os sistemas automáticos são desactivados em favor da condução humana "são uma parte natural do processo de testes que permite aos engenheiros expandir as capacidades do software”.

A empresa da Alphabet acentua que este ano apenas foram registadas 124 falhas, o que é uma redução de 75% em relação a 2015. Contudo Medford diz que o foco não é apresentar o mínimo número de problemas possíveis. “Esse não deve ser o objectivo durante os testes. O propósito é, sim, conseguir a maior quantidade de informação sobre a nossa tecnologia para melhorar o nosso sistema.” Nos carros da Waymo,  as falhas de software foram o problema mais frequente (somando 11% de todas as falhas), com apenas 2,15% dos erros a serem atribuídos ao comportamento errático de outros condutores.

Os carros automáticos da Nissan também apresentaram dados melhores face a 2015. Apenas foi necessária intervenção humana uma vez em cada 397 quilómetros, face a uma vez em cada 22,5 quilómetros em 2015.

Já a BMW é o fabricante com menos erros no seu relatório – contabilizando apenas um este ano –, mas apenas elaborou testes entre Março e Abril de 2016, somando pouco mais de mil quilómetros.

A Tesla, cujo piloto automático foi ilibado de um acidente fatal em 2016 que matou o condutor e único ocupante, também soma poucos quilómetros (885, no total), mas registou 182 ocorrências imprevistas durante o ano. A maioria foi atribuída a erros técnicos no sistema.

Embora a compilação de relatórios por parte da autoridade californiana permita perceber a evolução da tecnologia de piloto automáticos, Bryan Reimer espera que a apresentação dos relatórios melhore no futuro. “As estatísticas são difíceis de interpretar porque variam consideravelmente entre organizações,” diz o cientista, que espera que no futuro se crie um formulário generalizado – com a mesma metodologia e terminologia – para facilitar a comparação dos resultados de cada organização.  

Texto editado por João Pedro Pereira

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