O mundo navega à bolina e Murphy é o capitão

O mundo é uma embarcação à deriva. As ondas, vozes do povo revoltado, não se contentam com o seu próprio rumo

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Monica Almeida/Reuters

O mundo anda desorientado. Navega à bolina, contra o vento… mareia, em ventos não favoráveis. As velas são chicoteadas por sopros caprichosos, tiranos, que não deixam namorar a História com a democracia… brincam às rotundas, tentam rabiscar estórias, apagar cartas náuticas. Giram sobre si próprias aproveitando abertas de luz… quando o autoritarismo boceja e fecha os olhos por momentos. O espírito da lei de Murphy paira no comando do leme, dedos de anjo barroco, cabelo loiro arrogante, filho de emigrantes, casado com uma emigrante, assume com prepotência o pulso da embarcação. Apenas vocifera “Se algo tiver de correr mal, assim será!”

O mundo é uma embarcação à deriva. As ondas, vozes do povo revoltado, não se contentam com o seu próprio rumo. Assolam a embarcação com a sua espuma fria e cortante, gravam as suas unhas na madeira que já tantos mares conquistou. Gritam por direitos, por princípios perdidos, por justiça… gritam tão alto que se conseguem ouvir os salpicos das suas preces revoltadas nos confins de um céu perdido.

O mundo anda desorientado… Como pode um homem como ele assumir o comando da embarcação? Nem na capitania de porto quanto mais de uma nação? Um poder déspota, com fome fascista, xenófobo, racista e isolacionista. “Ó glória de mandar! Ó vã cobiça, desta vaidade a que chamamos fama!”. A democracia terá de ver a luz a ferros. Espicaça as ondas, têm resposta agressiva, espumam de raiva, erguendo-se ainda mais sobre a tirania da embarcação. Movimentos de verticalidade e resistência erguem-se contra o neofascismo. Caminhos abertos nos últimos dias pelas feministas, perpetuados com os funcionários de organismos públicos e paladinos dos imigrantes. Hasteiam-se bandeiras vermelhas sem qualquer resistência…é a democracia a ganhar dentes, que não são de leite! Olho por olho dente por dente… definitivos.

Soçobro-me sobre as minhas piores vertigens, não vislumbro o melhor. Na sinalética da vida só vejo sinais proibidos, as cedências são poucas. As notícias ígneas. Verdadeiras nortadas que sopram sobre um mar eriçado, nem Sally Yates conseguiu um colete de salvação… Os marinheiros, esses, têm de fazer História, têm de levar a embarcação à melhor praia, tornear os maus ventos. Que não tenham medo de dobrar o Cabo da Boa Esperança, que o Mostrengo será jogado para o fundo dos mares pela Tormenta da liberdade em poucos Cantos. Não deixemos a sua vitória perpetuar-se até ao décimo. Que as suas lágrimas salgadas revistam o Bill of Rights de força, que icem velas de coragem, que se mude o rumo da desorientação. O mundo é redondo, a esperança itinerante e os direitos parte nossa integrante, no americano ou no emigrante. A praia mais bonita é onde a liberdade é conquistada e nunca recuperada, onde os muros dão lugar à tolerância e onde o sol é um relógio de direitos que não dá horas na sombra!

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