Sou Mestre, e agora?

No final, não é o diploma mas sim a curiosidade e a capacidade de colocar as hipóteses adequadas que definem a essência e potencial do investigador

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Num país que parece viver permanentemente em crise, as bolsas de doutoramento financiadas pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia continuam a ser vistas como um verdadeiro Santo Graal entre estudantes, quase mestres, finalistas das mais diversas áreas no ensino português. A falta de alternativas aliciantes, em particular nas áreas onde a tecnologia de ponta demora a entrar no país, é com toda a certeza uma das razões. Mas, será que há outras?

A maturidade a partir dos vinte anos começa a ganhar estrutura. A pressão aumenta e com ela surgem uma série de receios. Sabem os estudantes, e sabemos todos nós, que num país de escassas oportunidades, perder a próxima pode vir a tornar-se motivo de arrependimento. Não me atrevo a adivinhar quantos candidatos a doutoramento se têm deixado levar pela precipitação e pela falta de coragem para desenhar um caminho alternativo e personalizado. No entanto, sei que eles existem. Um doutoramento nunca é nem nunca será uma ideia má para os que buscam o conhecimento e o desafio. Porém, também não é a ideia certa para qualquer estudante com potencial.

Começo por destacar os indivíduos mais flexíveis, os que têm interesses diversificados e conseguem interligar sectores melhor do que ninguém. No entanto, podem sentir desconforto na hora de focar o caso de estudo por períodos prolongados dada a panóplia de novas ideias que vão surgindo. Um segundo grupo, aquele ao qual o doutoramento melhor se adequa, engloba os que procuram dominar ao detalhe a sua área de interesse e conforto. São por norma mais disciplinados e fortes na execução, contudo menos atentos a outras esferas que os rodeiam. A longo prazo, é uma mistura de elementos de ambos os grupos que melhor consegue idealizar e executar um projeto inovador.

Quer na academia quer na indústria é possível reconhecer algumas pistas sobre as escolhas que melhor se coadunam a cada personalidade. O grupo de investigação menor não deixará o aluno dispersar pois é usualmente mais focado e dá uma atenção especializada a cada etapa. Por outro lado, o grupo maior tem margem de erro acrescida e por isso mesmo oferece mais liberdade para os que preferem estimular a sua própria criatividade. Evoluir na indústria, onde as de menor dimensão estão mais disponíveis para treinar e dar créditos, pode ser particularmente gratificante entre os mais flexíveis pois permite adquirir competências de largo espectro. No entanto, em casos de pressão pouco intensa, a curiosidade e disciplina tornam-se um motor imprescindível na evolução. É ainda um erro assumir que as publicações científicas são exclusivas das universidades uma vez que cada vez mais empresas as utilizam como canal de marketing na divulgação dos seus pontos fortes além-fronteiras.

No final, não é o diploma mas sim a curiosidade e a capacidade de colocar as hipóteses adequadas que definem a essência e potencial do investigador. Define ponderadamente os teus objetivos e, sobretudo, personaliza o teu caminho.

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