Governo apresenta estratégia para fazer face à quarta revolução industrial

Conjunto de 60 medidas inclui a mobilização de fundos europeus e o lançamento de acções de formação para trabalhadores, gestores e empresários durante os próximos quatro anos.

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Previstos incentivos a quem adopte tecnologias que permitam mudanças disruptivas Miguel Manso

Garantir que os empresários e gestores das empresas portuguesas estão preparados para enfrentar um mundo em que só indústrias “inteligentes”, totalmente adaptadas ao mundo digital, conseguem ser competitivas é um dos objectivos incluídos na estratégia “Indústria 4.0” que o Governo irá apresentar esta segunda-feira.

O termo “Indústria 4.0” começou a ser usado pelo governo alemão quando, em 2012, lançou um plano de modernização industrial com essa designação. Porquê “Industria 4.0”? A lógica é a de que, depois de uma primeira revolução industrial que resultou do aparecimento das máquinas a vapor, de uma segunda que ocorreu com o uso da electricidade e a produção em cadeia e em massa e de uma terceira que aconteceu assim que se automatizou a produção através do uso de computadores, podemos estar agora perante uma quarta revolução industrial, em que, para além da automatização, se assiste a uma total e permanente ligação das máquinas com outras máquinas e com as pessoas, o que torna todo o processo produtivo muito mais inteligente.

De acordo com a informação fornecida ao PÚBLICO pelo Ministério da Economia, a estratégia que será agora lançada abrange vários sectores de actividade, incluindo por exemplo o comércio e o turismo, onde o impacto da utilização das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) tem sido muito significativo. O objectivo é “preparar as empresas portuguesas para a Industria 4.0” e o programa consiste na aplicação de 60 medidas que foram debatidas pelo Governo “com mais de 200 entidades e empresas em grupos de trabalho para diferentes sectores, como o retalho, o turismo, o automóvel, os moldes ou a agro-indústria”.

As estimativas feitas pelo Governo para o impacto das medidas são ambiciosas. Prevê-se que “mais de 50 mil empresas” a operar em Portugal sejam envolvidas e que “até 4,5 mil milhões de euros” de investimento seja injectado na economia. Um investimento desta magnitude, a concretizar-se, corresponde a 4,3% do total do investimento realizado em Portugal durante os quatro anos decorridos entre 2012 e 2015.

Do valor do investimento previsto, 2,26 mil milhões de euros são garantidos por via da mobilização de Fundos Europeus Estruturais e de Investimento, através do Portugal 2020, para a consciencialização, adopção e massificação de tecnologias associadas ao conceito de “Indústria 4.0”, nos próximos 4 anos.

Uma das medidas a apresentar chama-se “Acções de formação para empresários”. A ideia é que, para as empresas estarem preparadas para as mudanças, é preciso que os seus trabalhadores tenham as competências técnicas necessárias, nomeadamente ao nível dos seus quadros técnicos e de gestão, para além dos próprios empresários.

A medida prevê que a formação irá ser feita através de uma oferta específica para dirigentes leccionada em escolas de gestão e promovida por entidades públicas e privadas.

A qualificação dos empresários e gestores portugueses é um alvo habitual das críticas feitas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) nas avaliações que faz ao país, defendendo os seus técnicos que se deve "rever a eficácia e amplitude dos programas para promover as competências de gestão em Portugal".

Outras medidas do plano do Governo incluem, para além da mobilização dos fundos europeus, a entrega de um vale “Indústria 4.0” no valor de 7500 euros a Pequenas e Médias Empresas para que estas adoptem tecnologias que permitam mudanças disruptivas nos seus modelos de negócio, a formação de 20 mil pessoas em TIC, a realização de viagens ao estrangeiro com comitivas nacionais de empresários e o desenvolvimento de planos específicos para sectores, realizados em conjunto com associações empresariais. O plano, inserido na Estratégia Nacional para a Digitalização da Economia, será apresentado esta segunda-feira em Leiria pelo ministro da Economia, Manuel Caldeira Cabral, e pelo secretário de Estado da Indústria, João Vasconcelos.

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