Beppe Grillo rompe aliança com Farage no Parlamento Europeu

A saída do M5S põe em risco a sobrevivência do grupo dos eurocépticos e está a dividir a ala liberal, que Grillo quer integrar. Verhofstadt, que quer suceder a Shulz, já conta com os 17 votos do M5S.

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O líder do M5S, Beppe Grillo Max Rossi/Reuters

O partido populista italiano Movimento 5 Estrelas (M5S) decidiu esta segunda-feira sair do grupo Europa da Liberdade e Democracia Directa do Parlamento Europeu (EFFD, na sigla em inglês, eurocéptico) e juntar-se à  Aliança de Liberais e Democratas pela Europa (ALDE). Este passo compromete a sobrevivência dos primeiros e dividiu os segundos.

Nigel Farage, eurodeputado e líder do partido eurocéptico britânico UKIP, o dirigente do M5S, Beppe Grillo, vendeu-se ao aliar-se aos "eurofanáticos" do ALDE.

Grillo tinha proposto este afastamento, no domingo, ao considerar que o UKIP atingira o seu propósito político no referendo do ano passado que ditou a saída do Reino Unido da União Europeia. A aliança, disse o líder do M5S, deixou de fazer sentido para a formação italiana.

Seguindo o princípio de "democracia directa" seguido pelo partido, o 5 Estrelas realizou uma votação online para decidir se mantinha ou rompia a aliança no Parlamento Europeu — votaram 40.600 inscritos e 78,5% apoiaram Grillo.

O 5 Estrelas é o principal partido da oposição italiana, rejeita o rótulo (e a ideologia) de esquerda radical e não tem um lugar óbvio dentro das famílias que constituem o Parlamento Europeu. "Reformar a zona euro" e restabelecer o "direito à liberdade" são alguns dos principios do M5S, uma formação política anti-sistema que agora procura de um espaço dentro desse mesmo sistema. "O ALDE e o M5S partilham o valor central da liberdade e da transparência", diz o documento que foi posto online antes da votação.

Mas a vontade de adesão não é pacífica dentro da ALDE. "Muitos de nós não concebem receber no grupo o movimento político de Beppe Grillo", disse Marielle de Sarnez, líder do grupo liberal-democrata, citada pelo jornal italiano La Reppublica. O ALDE realiza terça-feira uma reunião para debater o pedido de entrada do M5S, mas já houve contactos entre Grillo e um dos seus membros, o ex-primeiro-ministro belga Guy Verhofstadt, que disse que o 5 Estrelas é bem vindo.

Verhofstadt é candidato à sucessão de Martin Shulz como presidente do Parlamento Europeu. A primeira votação para escolher o novo presidente está marcada para dia 17 de Janeiro e o ex-primeiro-ministro belga gostava de ter os 17 votos do 5 Estrelas. Resta saber se com a sua posição sobre a entrada do grupo de Grillo não alienará votos da sua própria bancada.

Marielle de Sarnez diz que ele comprometeu as suas hipóteses, e manchou a reputação do ALDE. "Guy Verhofstadt perdeu as reduzidas possibilidades que tinha de fazer um acordo com os socialistas para se tornar presidente do Parlamento Europeu. Além disso, a partir de agora, será como se o grupo ALDE deixasse de existir. Com a entrada do M5S, muitos de nós tiraram as devidas consequências."

A decisão compromete também a sobrevivência dos eurocépticos como grupo dentro do PE - de que fazem partem além do UKIP, a Alternativa para a Alemanha, o Partido dos Cidadãos Livres (República Checa), os Democratas Suecos, o KORWiN polaco e o Ordem e Justiça da Lituânia, além de uma independente francesa (ex-Frente Nacional).

Para um grupo se constituir no Parlamento Europeu necessita de reunir 25 deputados de sete Estados-membros. Com o M5S, o grupo tinha 44 deputados. Restam 27, bastando haver uma crise que leve um par deles a abandonar o grupo para ter que se dissolver. Acresce a esta artimética a circunstância de o UKIP deixar de existir no PE assim qeu o Reino Unido deixar a UE.

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