A grandiosidade da ambição de Derek Cianfrance esbarra na fragilidade do andaime

A Luz entre Oceanos é um melodrama tão transparentemente manipulador como desconcertantemente sincero, que tanto quer ser clássico e moderno ao mesmo tempo que acaba por não ser nada.

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Adaptação de um romance best-seller da australiana Margot Stedman, A Luz entre Oceanos é o momento em que a grandiosidade da ambição do americano Derek Cianfrance esbarra na fragilidade do andaime. Ou, para pormos a coisa em português suave, em que o realizador de Só Tu e Eu (2010) e Como um Trovão (2012) põe o carro à frente dos bois e revela que a sua vontade de reinventar o grande melodrama clássico para os nossos dias não tem muito por onde se aguentar.

Não é culpa dos actores — Michael Fassbender aguenta o filme aos ombros com um estoicismo romântico perfeitamente impecável — e a abordagem não é desprovida de sentido. Cianfrance continua a querer o abandono arrebatado do grande melodrama catártico cosido, sem costuras à vista, à complexidade dramática do cinema pós-Segunda Guerra Mundial; e A Luz entre Oceanos insere-se sem problemas na lógica dos seus filmes anteriores, com um homem (Fassbender, um veterano da Primeira Guerra Mundial tornado faroleiro nos confins da Austrália) prisioneiro de uma decisão impossível, quase salomónica, da qual a felicidade de um casal está dependente (“do the right thing”, numa frase que nos lembrou do Não Dês Bronca de Spike Lee).

Mas Cianfrance deixou-se levar pela fotogenia das paisagens neo-zelandesas onde tudo foi rodado, pela simplicidade de romance de cordel da tragédia central. E vai dos luxuosos cartões postais da fotografia de Adam Arkapaw, vai do romantismo assolapado da partitura de Alexandre Desplat, vai das heroínas filmadas como grandes tragédiennes, tudo a girar em turbilhões de lugares-comuns embrulhados como se fossem chocolates belgas para esconder que não passam de tabletes de sucedâneo compradas em Badajoz.

A Luz entre Oceanos é tão transparente na sua manipulação emocional como desconcertantemente sincero na sua vontade de querer que o levemos a sério; pelo meio do fogo de vista, Derek Cianfrance nunca define onde é que termina a sinceridade e começa o artifício. O que daqui sai são molduras formais deslumbrantes para uma história deslavada e previsível.

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