Há 75 anos, uma congressista americana votou contra a guerra ao Japão

Chamava-se Jeannette Rankin e foi a primeira mulher a ser eleita para um lugar no Congresso.

Foto
O ataque japonês a Pearl Harbour, no dia 7 de Dezembro de 1941 Reuters

Um dia depois de o Japão ter lançado o ataque a Pearl Harbor, os deputados americanos votaram quase de forma unânime pela declaração de guerra. Só uma congressista quebrou o consenso: Jeannette Rankin, republicana do Montana e pacifista convicta, que também votara contra a I Guerra Mundial.

Quando chegou a sua vez de votar, no dia 8 de Dezembro de 1941, Rankin enfrentou um coro de vaias e disse: "Como mulher, não posso ir para a guerra e recuso-me a mandar outra pessoa". A resolução foi aprovada por 388 votos a favor e 1 contra.

Depois da votação, escondeu-se por momentos numa cabine telefónica na Câmara dos Representantes, receando poder ser atacada por algum visitante do Capitólio descontente.

Hoje, a posição de Rankin não passa de uma nota de rodapé no drama épico que se seguiu: três dias depois, a Alemanha Nazi declarou guerra aos Estados Unidos e tropas americanas entraram no conflito em múltiplas frentes na Europa e no Pacífico. Rankin, consciente de que os ventos políticos não sopravam a seu favor, não se recandidatou em 1942.

Mas ignorar o seu legado é um erro. Afinal, Rankin foi a primeira mulher eleita para um lugar no Congresso. A sua decisão baseou-se na sua defesa do pacifismo e das políticas progressistas.

Nascida em 1880 numa família da classe média do Montana, trabalhou como assistente social em San Francisco e formou-se na Universidade de Columbia, em Nova Iorque. Esta sufragista, que lutou contra as grandes empresas mineiras, ganhou as eleições de 1916, uma altura em que poucos estados tinham dado às mulheres o direito de votar.

Rankin não considerava que as mulheres eram iguais aos homens, considerava que eram melhores e mais capazes de trabalhar pelo bem público.

"Há bebés a morrer de frio e fome", disse certa vez num discurso, conta o historiador Josh Zeitz. "Soldados morrem por falta de camisolas de lã. Poderão os homens que passaram a vida a pensar em termos comerciais ajustar os seus pensamentos às necesidades humanas? Será possível que as mulheres deste país não tenham nada de válido para dar ao país neste momento?"

No seu primeiro mês como congressista, em 1917, foi um dos 50 legisladores que votaram contra o pedido do Presidente Woodrow Wilson para os EUA entrarem na I Guerra Mundial. Deixou o cargo em 1919, mudou-se para uma quinta na Georgia e percorreu o país em campanha pelos direitos das mulheres.

"Tiveram que passar 22 anos, quando as memórias da I Guerra Mundial se esvaíram na confusão que se lhe seguiu, que ela pôde regressar ao Congresso [em1940]", escreveu Will Englund.

Derrotou o anti-semita e simpatizante do nazismo Jakob Thorkelson nas primárias republicanas do Montana. Mas o seu tempo no Congresso voltou a ser encurtado. Depois de ter votado contra a guerra, o seu irmão e patrocinador, Wellington, expulsou-a do estado: "O Montana está 100% contra ti".

De acordo com os historiadores da Câmara de Representantes, Jeannette Rankin confessou aos amigos que ficou "sem nada, além da integridade".

Englund, editor da secção Mundo do jornal The Washington Post, vai lançar o livro March 1917: On the Brink of War and Revolution (Março de 1917: à beira da guerra e da revolução), que conta a história do pacifismo de Rankin e relata os últimos anos antes da sua morte, em 1973, aos 93 anos.

"Ela mudou-se para uma casa muito suja e de um só piso na Georgia, manteve o seu amor pelos gatos, fazia questão de se vestir sempre bem e nos últimos anos usava uma peruca num tom louro cinza. Em 1968, quanto tinha 87 anos, liderou uma marcha de milhares de mulheres em Washington contra a guerra no Vietname - a Brigada Jeannette Rankin.

Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post

 

 

 

 

 

Sugerir correcção
Comentar