Canal A&E cancela repentinamente a sua série sobre o Ku Klux Klan

Mesmo antes de ir para o ar, o canal norte-americano, também presente em Portugal, acabou por decidir não exibir o polémico documentário.

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A&E

Cinco dias depois de ter anunciado uma nova série documental sobre o Ku Klux Klan, o canal A&E cancelou esse projecto de forma repentina. Num comunicado emitido na véspera de Natal, o porta-voz do canal disse que os produtores da série pagaram aos participantes para “facilitar o acesso”, algo de que o A&E só soube agora e que é uma prática contrária à sua política.

A série de oito episódios deveria estrear em Janeiro e visava “olhar de perto para quem trabalha no resgate de pessoas ligadas à promoção do ódio, ajudando-as a deixarem o Ku Klux Klan – o grupo racista com um longo historial de violência contra afroamericanos e outros” grupos. “Já tínhamos assegurado previamente ao público e aos nossos parceiros – inclusive as [organizações antiracistas] Anti-Defamation League e Color of Change – que não tinha existido qualquer pagamento aos membros de grupos de ódio, e na altura acreditávamos ser essa a realidade”, diz o mesmo comunicado. Agora, explicam, decidiram "não avançar com a transmissão deste projecto”, produzido por uma produtora externa.

Apesar de alguns produtores de reality TV pagarem a pessoas que filmam, o canal frisa que é contra essa prática no caso de documentários. “O A&E leva muito a sério a autenticidade da sua programação documental e os temas do racismo, do ódio e da violência”, acrescenta em comunicado.

A série, intitulada Generation KKK, era descrita como um olhar para os bastidores de quatro poderosas famílias do Klan, cada uma tendo um membro que tentava fugir da organização. Os produtores também focavam pacifistas que tentam ajudar esses membros a abandonar o KKK. O A&E, canal conhecido por programas como Intervention ou Scientology and the Aftermath, viu-se envolto em polémica na semana passada quando anunciou que a série ia existir. Algumas pessoas defendiam que qualquer série sobre o KKK, mesmo sobre pessoas que o deixam, é uma forma de normalizar um grupo que promove o ódio, especialmente depois de uma eleição presidencial em que membros do KKK apoiaram o futuro Presidente Donald Trump. 

Na esteira dessa reacção adversa, o canal reagiu dizendo que ia mudar o título da série para Escaping the KKK: A Documentary Series Exposing Hate in America para “garantir que ninguém possa confundir-se quanto à sua finalidade e que um título não sirva só por si para normalizar o Klan”, escreveu o A&E em comunicado. O canal também anunciou parcerias com a Anti-Defamation League e com a Color of Change e disse que ambas as organizações de defesa dos direitos civis iriam produzir guias de visionamento e um compêndio educativo para acompanhar a série, além de participarem num episódio especial de debate.

“Para nós, este novo título e estas parcerias, com os complementos dentro da série e após a série, além do nosso plano de apoio, reflectem de forma mais ampla o conteúdo anti-ódio da série e a nossa intenção”, disse então o vice-presidente executivo do canal, Rob Sharenow, num comunicado em que esclarecia os novos elementos do documentário. “O objectivo é expor e combater o racismo e o ódio em todas as suas formas e apreciamos o feedback valioso que recebemos.”

A série é produzida pela empresa de Los Angeles This is Just a Test, a mesma que está por trás de títulos como I Am Jazz, o programa do TLC sobre uma adolescente transgénero, ou Big Rig Bounty Hunters, do History Channel.

O trailer de Escaping the KKK foi retirado do YouTube mas o New York Times descreveu a sua primeira cena: um membro do grupo a oferecer capuzes do KKK às suas filhas. A série, que foi encomendada há cerca de ano e meio, terá, ainda segundo o New York Times, causado algumas dúvidas no A&E. “Não queríamos que a série fosse vista como uma plataforma para as opiniões do KKK”, disse Sharenow ao New York Times. “A nossa única agenda política é que somos contra o ódio.”

Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post

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