The Guardian destaca energias renováveis portuguesas como momento marcante da ciência em 2016

Durante quatro dias em Maio o consumo de electricidade de Portugal foi alimentado, na totalidade, por fontes de energia renovável.

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Foram 107 horas de produção eléctrica feita exclusivamete através de energia renovável ANTONIO CARRAPATO / arquivo

Com o final do ano cada vez mais próximo, as listas de acontecimentos marcantes que ocorreram ao longo do mesmo começam a surgir. O jornal The Guardian listou os 12 momentos e descobertas mais significantes na área da ciência em 2016, onde o terceiro momento pertence a Portugal e às energias renováveis, que foram capazes de alimentar durante quatro dias o consumo total de electricidade no país.

O destaque atribuído a Portugal vem da parte de Mark Miodownik, o cientista e director do Institute of Making da University College de Londres. “Afastarmo-nos dos combustíveis fósseis para as energias renováveis é certamente um dos desafios científicos e de engenharia mais importantes da nossa era”, escreve Miodownik no Guardian.

O cientista refere ainda que a transição, no século XX, do uso do carvão para o petróleo ofereceu possibilidades de energia barata, contudo os combustíveis fósseis não se coadunam com preservação ambiental. “Se quisermos evitar as alterações climáticas, permitindo que os nossos filhos tenham acesso a estas coisas, devemos livrar-nos dos combustíveis fósseis”, acrescenta.

Depois de analisados os dados da Rede Eléctrica Nacional (REN), pela Zero – Associação Sistema Terrestre Sustentável, em colaboração com a Associação Portuguesa de Energias Renováveis (APREN), concluiu-se que o consumo eléctrico de todo o país foi feito com recurso apenas a renováveis.

Entre as 6h45 de 7 de Maio e as 17h45 do dia 11 do mesmo mês as energias renováveis alimentaram exclusivamente todo o consumo de electricidade. Foram 107 horas seguidas sem ser necessário recorrer a fontes de produção de electricidade não renovável, como centrais térmicas a carvão ou a gás natural.

“Esta concretização de Portugal dá aos governos e empresas de energia um exemplo tangível de como é possível e funciona, e por que é que se deve investir em energia solar, eólica e hidráulica”, conclui Mark Miodownik.

Além deste feito português com reconhecimento internacional, o painel de cientistas convidados do jornal britânico elegeu mais 11 momentos que marcaram a ciência durante este ano.

O estado de emergência pública declarado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) devido à epidemia do vírus Zika foi considerado o acontecimento mais marcante de 2016 na área da ciência. No Outono do ano passado, o Zika, até então desconhecido no Brasil, começou a ser uma fonte crescente de preocupação devido a uma quantidade anormal de bebés que nasceram com microcefalia naquele país. A partir daí estabeleceram-se provas científicas que ligavam a infecção do vírus em mulheres grávidas e casos de bebés em que o cérebro não crescia normalmente. Esta situação desencadeou esforços de controlo de mosquitos (que transmitem o vírus) e financiamento para investigação da infecção que já está presente em cerca de 75 países.

Em segundo lugar na lista está a proeza conseguida pela empresa SpaceX, quando o primeiro andar do foguetão Falcon-9 se separou do resto do aparelho ao fim de cerca de 2,5 minutos de voo e regressou sozinho até à Terra, aterrando a poucos quilómetros do local da partida.

Em quarto lugar está a descoberta de uma nova reserva de hélio, o segundo elemento mais abundante no Universo mas escasso na Terra. As reservas de hélio são limitadas, pelo que esta descoberta constitui um avanço científico importante. Localiza-se na Tanzânia e responde a novas técnicas de exploração.

Em 2016, também foi o ano em que se descobriu um novo planeta que orbita a estrela Próxima do Centauro. O Próxima b — o nome dado ao planeta — é rochoso e o seu tamanho é semelhante ao da Terra. 

Em sexto lugar, o Guardian refere a uma nova caracterização do LUCA, a sigla em inglês do último antepassado comum universal, uma molécula que armazenou toda a informação em forma de código genético que deu origem a toda a vida na Terra. O bioquímico Bill Martin listou 355 genes que nos mostram como é que o LUCA terá sido composto, tendo como base fontes hidrotermais.

Em sétimo lugar, está em causa a contestação de um legado deixado por uma aclamada neurocientista – Suzanne Corkin. Corbin contribuiu em larga escala para a compreensão da memória, contudo um livro publicado por um jornalista este ano refere que a neurocientista rasgou arquivos e enterrou factos inconvenientes, agindo de forma não ética sobre o caso do paciente HM, o homem sem memória.

Soube-se também este ano que os tubarões da Gronelândia vivem por longos períodos de tempo, facto que ocupa o oitavo lugar. Os tubarões da Gronelândia vivem mais de 400 anos, tornando-os nos seres vertebrados com maior longevidade de sempre.

Na nona posição, está a ultrapassagem das 400 partes por milhão de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera da Terra, que foi registada este ano. As 400 partes por milhão (ppm) de CO2 significa que há 400 moléculas desse gás por cada milhão de moléculas na atmosfera. A Organização Meteorológica Mundial explica que isso se deve, em parte, ao fenómeno do El Niño, que potenciou condições de seca em regiões tropicais. A última vez que os valores de CO2 ultrapassaram as 400 ppm foi há cinco milhões de anos. 

Sabia que um casamento mau pode levar à morte precoce? É uma dos resultados científicos de 2016 e ocupa a décima posição. O estudo envolveu uma larga investigação sobre emoções nas interacções entre casais.

Em décimo primeiro lugar estão os volumes de gelo marinho nos oceanos do Árctico e do Antárctida que caem para um mínimo histórico. As temperaturas no Árctico foram elevadas que partes do oceano não conseguiram congelar, assim como na Antárctida, onde também o gelo do mar derreteu depressa de mais.

Em último, mas não menos importante, o Guardian destaca o trabalho dos cientistas que modificaram o processo de fotossíntese de forma a aumentar o rendimento das culturas agrícolas, um progresso fundamental numa altura em que produzir alimentos devido às alterações climáticas é desafiante.

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