Uma das mais estimulantes vertentes contemporâneas da crítica de cinema é o “video-ensaio”, que transfere a dimensão pedagógica/analítica da página para o écrã, recorrendo a excertos dos próprios filmes para esclarecer, apontar, descobrir, investigar, comentar ou exemplificar. Pela sua própria natureza de documentário sobre aquele que muitos consideram ser o maior livro de/sobre cinema de sempre – a longa entrevista de Alfred Hitchcock a François Truffaut publicada pela primeira vez em 1966 que é uma autêntica master-class de mise en scène – Hitchcock/Truffaut é o video-ensaio para acabar com todos os video-ensaios.

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Kent Jones, veterano crítico e programador americano, desenha nestes económicos 80 minutos a história e as motivações por trás do livro bem como o seu impacto junto de toda uma geração de autores, americanos e europeus, que aprenderiam bem as lições do cinema de Hitchcock e do livro de Truffaut: Martin Scorsese, Peter Bogdanovich, Paul Schrader, Wes Anderson, James Gray, Olivier Assayas ou Kiyoshi Kurosawa dão a cara, Jones multiplica os excertos das obras de Hitchcock para criar uma “introdução ao autor” que nunca é academicamente árida nem virtuosamente estéril. Filme de uma erudição cinéfila generosa e aberta aos curiosos, Hitchcock/Truffaut tem, no entanto, mais de manual de consulta regular do que de experiência de cinema, de extra glorificado de DVD do que de objecto autónomo – o que não minimiza, nem de longe, o seu valor enquanto autêntico exemplar pedagógico.