O filantropo descompensado
A entrega de um actor, Richard Gere, disposto a explorar outros territórios merecia melhor e, já agora, o espectador também: O Benfeitor.
É a segunda vez este ano — depois do mais interessante Viver à Margem de Oren Moverman — que vemos Richard Gere num papel de composição a “contra-mão” da sua imagem. Aqui, interpreta um filantropo descompensado que se escondeu do mundo depois de um acidente de automóvel onde ficou coxo e os seus melhores amigos perderam a vida, e cuja vontade de ajudar a filha órfã do casal parece trazer água no bico. Infelizmente, a primeira ficção longa de Andrew Renzi nunca concretiza a ambiguidade que passa o tempo a sugerir, como quem faz tangentes ao essencial sem querer lá chegar, afastando tudo o que possa lançar sombras e dúvidas sobre a natureza deste milionário misterioso. É Gere que, sozinho, dá corpo a essas sugestões num filme que as desaproveita por inteiro e se esconde demasiado por trás da fotografia vistosa de Joe Anderson. A entrega de um actor disposto a explorar outros territórios merecia melhor e, já agora, o espectador também.