Portugueses gastaram este ano 682 milhões em tecnologia
Consumo deverá aumentar mais de 4% em 2016 e os retalhistas antecipam boas vendas no Natal. Novidades como hoverboards e óculos de realidade virtual começam a despertar a atenção dos consumidores.
Com o sentimento de confiança dos consumidores em crescendo, a compra de produtos de tecnologia está a subir em Portugal e os retalhistas antecipam uma boa época natalícia nestes segmentos. Mesmo os telemóveis, cuja procura tem abrandado na generalidade dos mercados maduros, parecem continuar a atrair a atenção de quem faz compras.
Dados da analista de mercado GfK indicam que a facturação do mercado de bens de consumo tecnológicos (uma designação alargada, que vai das colunas de som às máquinas de café e outros electrodomésticos como frigoríficos) aumentou 3,6% nos primeiros nove meses do ano, face ao mesmo período de 2015, para 682 milhões de euros. A previsão é que acelere no final deste ano e que 2016 chegue ao fim com um crescimento superior a 4%.
O segmento das telecomunicações – em que se inserem os telemóveis, mas também acessórios, como auriculares – cresceu 11% no terceiro trimestre, atingido os 238 milhões de euros. Os retalhistas antecipam que os telemóveis vão continuar a ter procura. “Os smartphones assumem posição de destaque durante todo o período de Natal”, afirmou a Fnac, em resposta a questões do PÚBLICO. “A Fnac continua com uma taxa de crescimento positiva na categoria de smartphones”, referiu a cadeia, acrescentando que “a estimativa para 2017 é que mantenha a mesma tendência”. Também a Worten (do grupo Sonae, dono do PÚBLICO) observa uma tendência semelhante. “Essa é uma categoria muito relevante para o negócio da Worten. Valeu cerca de 16% nas vendas totais de 2015”, explicou a directora de marketing, Inês Drummond Borges. “Nas nossas lojas, a procura por este tipo de equipamentos não abrandou e prevemos que, este ano, as vendas de smartphones tenham um peso aproximadamente equivalente no volume de negócios total.”
O mercado de smartphones tem vindo a sofrer um abrandamento em termos globais, com um arrefecimento da procura especialmente nos países onde a penetração deste tipo de equipamentos já é elevada. Longe vão os tempos dos crescimentos a dois dígitos. Números da IDC, uma outra analista de mercado, apontam para uma quase estagnação no terceiro trimestre do ano, em termos de unidades enviadas para as lojas de todo o mundo. Foram perto de 363 milhões de aparelhos, apenas mais 1% do que em 2015. A Samsung e Apple, que ocupam os dois lugares cimeiros da tabela, registaram decréscimos, ao passo que o crescimento acontece nas marcas dos mercados asiáticos.
Para lá dos smartphones, a GfK antecipa que, em Portugal, os produtos com maior procura nesta época sejam também as televisões, consolas de jogo e ainda as colunas com ligação por bluetooth (que podem ser ligadas sem fios a computadores e telemóveis), bem como as barras de som para televisores. “Estes são os produtos que serão seguramente mais procurados para este Natal”, observa a empresa.
Do lado da Worten, Inês Borges refere que, nesta altura, “os produtos de entretenimento, como as consolas e os jogos, são dos produtos mais procurados”. De 15 de Novembro até 6 de Dezembro, a cadeia vendeu mais de 48 mil jogos. No mesmo período, foram 46 mil os smartphones vendidos. Há também “uma procura crescente de novidades tecnológicas” como as hoverboards (um aparelho eléctrico que permite aos utilizadores descolarem-se em pé), os drones e os óculos de realidade virtual, uma tecnologia que empresas como a Samsung, o Facebook e a Microsoft, entre outras, se estão a esforçar por promover.
Em Portugal, uma boa parte do aumento no mercado de bens tecnológicos considerado pela GfK foi, porém, resultado da procura por electrodomésticos como máquinas de lavar roupa e frigoríficos. Este tipo de equipamentos tinha crescido 7% no terceiro trimestre face aos mesmos meses de 2015, ao passo que as vendas de electrodomésticos de pequena dimensão aumentaram 11%. “Houve um aumento de compra de casas e, no tempo de crise, houve alguma contenção”, avalia Paulo Caldeira, da GfK, ressalvando, contudo, ser “muito cedo” para dizer se a sombra da crise económica se está a dissipar na cabeça dos consumidores.
Há, no entanto, indicadores de mais optimismo na população portuguesa no que diz respeito à economia. O indicador de confiança dos consumidores, medido pelo Instituto Nacional de Estatística, subiu entre Setembro e Novembro. Já um inquérito feito pela Deloitte em nove países europeus, entre os quais Portugal, aponta que os portugueses estão mais optimistas face à economia do que no ano passado, embora quase metade ainda veja de forma negativa a actual situação económica. Além disso, dizem estar a contar gastar nesta época festiva 359 euros, menos do que no ano passado. Para presentes, as expectativas são de gastos na ordem dos 183 euros.
Sejam telemóveis, videojogos ou smartphones, parece certo que as compras serão deixadas para o fim. No ano passado, a Worten registou o pico de compras para a semana imediatamente antes do Natal. Já a Fnac nota que graças à Black Friday – um dia fortes descontos que é uma tradição importada dos EUA – houve alterações nos padrões de compras. “Neste momento, as primeiras semanas de Dezembro são mais tranquilas do que no passado e a verdadeira corrida às compras inicia-se na semana antes do Natal, atingindo o seu auge no dia 23 de Dezembro”.