Condições laborais da Amazon na Escócia são “vergonhosas”

Há relatos de funcionários que são penalizados se adoecerem e de pessoas que dormem em tendas perto do armazém.

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Funcionários da Amazon trabalham em condições precárias na Escócia AFP/JOHN MACDOUGALL

A Amazon, o gigante das vendas online, está novamente nas bocas do mundo pelos piores motivos. Desta vez, a empresa é acusada de fornecer condições laborais precárias aos seus funcionários, no armazém de Dunfermline, na Escócia.

As acusações partiram do líder dos Liberais Democratas escoceses, Willie Rennie, que diz ter tido conhecimento de que alguns funcionários da tecnológica pernoitavam junto das instalações do armazém, em Dunfermline, para evitar custos nas deslocações para o trabalho.

O caso começou nas página do jornal escocês The Courrier, que publicou fotografias das tendas montadas junto ao armazém da Amazon, dando conta das condições em que viviam alguns funcionários.

Por sua vez, uma investigação do Sunday Times revelou neste fim-de-semana que os trabalhadores temporários da Amazon são penalizados por tirarem dias devido a doença e pressionados a atingirem objectivos de encomendas. O jornal britânico escreve também que, dadas as dimensões do armazém, os trabalhadores percorrem quilómetros dentro do edifício, sem que os dispensadores de água sejam regularmente recarregados.

Willie Rennie classifica estas condições laborais como “vergonhosas” e insta a retalhista a mudar a sua política. “É finalmente a altura de a Amazon mudar a sua posição. Isso significa uma mudança nos salários e nas condições de trabalho”, diz o político escocês. É “uma vergonha que paguem aos seus trabalhadores tão pouco, que eles tenham de acampar no pico do Inverno para fazer face às despesas”.

A Amazon reagiu a estas acusações, reafirmando ter uma política laboral que assegura a segurança dos trabalhadores e a competitividade do ponto de vista salarial. “Nós fornecemos um local de trabalho positivo e seguro com benefícios e salário competitivos desde o primeiro dia”, disse fonte da empresa ao Guardian. A Amazon sublinha ainda que os funcionários têm acesso a oportunidades de progressão de carreira e que esse é um dos motivos da “atracção” de trabalhadores.

Os responsáveis da empresa não negam as pressões exercidas sobre os funcionários, mas preferem relativizá-las e salientar que o mesmo acontece em empresas semelhantes, em que comportamentos ajustados são aliados a um conjunto de metas fixado. “Nós esperamos um certo nível de performance dos nossos funcionários. Metas de produtividade são fixadas objectivamente, baseadas em níveis de performance alcançados pelos nossos trabalhadores.”

Estas notícias vêm a público numa altura em que se avizinha mais uma quadra festiva. A Amazon contratou 20 mil trabalhadores temporários para o pico da época de Natal, mais do que duplicando a sua força de trabalho, observa o Guardian.

Esta não é a primeira vez que a Amazon fica debaixo de fogo devido às condições laborais a que sujeita os seus trabalhadores. Sucessivos escândalos forçaram o presidente da Amazon a refutar críticas às condições laborais da empresa em Agosto de 2015, na sequência de uma investigação do jornal New York Times. Jeff Bezos argumentou na altura que tais práticas não permitiriam a sobrevivência de uma empresa num mercado altamente competitivo.

Em Dezembro desse mesmo ano, a Verdi, uma das maiores centrais sindicais da Alemanha, organizou um protesto contra a política salarial e laboral naquele que é o segundo maior armazém da Amazon na Europa. A greve convocada antecedeu o Natal, época forte de vendas e encomendas no site.

Um canal de televisão estatal alemão, o Hessischer Rundfunk, emitiu um documentário em 2013 que relevava as duras condições e a vigilância apertada a que os funcionários temporários estrangeiros da Amazon estavam sujeitos. A vigilância e a “segurança” dos funcionários estavam a cargo de trabalhadores de empresas de segurança identificados no documentário como sendo elementos de grupos neonazis.

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