Via Verde chega aos transportes públicos no próximo ano

Empresa da Brisa lança aplicação que permite pagar estacionamento ao ar livre. Nova estratégia de mobilidade chegará em breve aos autocarros, comboios e metro.

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O novo negócio da mobilidade poderá valer 10% da facturação no espaço de cinco anos NFACTOS/Fernando Veludo
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Pedro Mourisca, administrador delegado da Via Verde Jornal PÚBLICO

A empresa que, há 14 anos, foi pioneira em vender uma solução mais rápida e mais cómoda no pagamento de portagens, quer agora entrar (e inovar) no negócio da mobilidade. Uma aposta que arrancou sexta-feira com o lançamento de uma aplicação (app) para se substituir aos parquímetros no estacionamento à superfície e que, em breve, se traduzirá em novas soluções para andar de autocarro, metro, comboio ou táxi. Dos automobilistas para todas as pessoas. Assim será o futuro da Via Verde.

A aplicação anunciada sexta-feira estará disponível a partir de segunda-feira, em seis cidades do país onde a Via Verde se associou à Empark, empresa que já é sua parceira de longa data no estacionamento subterrâneo. Em Vila Real, Porto, Gaia, Figueira da Foz, Amadora e Portimão passará a ser possível pagar só ao final do mês o estacionamento que se utilizou – ou que utilizaram outros condutores associados ao perfil registado na plataforma. Uma inovação face à actual oferta no mercado, que obriga ao pré-pagamento, como acontece com a solução criada pela EMEL em Lisboa.

A ideia é ir aumentando a abrangência nacional, o que se espera atingir nos dois primeiros anos. “Já estamos em conversações com Lisboa e com Cascais. O ritmo de alargamento vai depender da vontade das cidades e do esforço comercial. O mais importante é que existe abertura”, explicou ao PÚBLICO o administrador delegado da Via Verde, Pedro Mourisca. A empresa, que ganha uma comissão sobre as transacções efectuadas, acredita que conseguirá atrair novos clientes com esta aplicação, até pelo facto de poderem associar-se à conta de terceiros e de não ser necessário ter um identificador igual aos que são usados para pagar as portagens.

Número de clientes sobe 7,1%

Pedro Mourisca garante que esta investida na mobilidade, que já está em estudo há quatro anos, não pretende dar resposta à queda de utilizadores da Via Verde nas auto-estradas, mas antes acompanhar “uma transformação que está em curso e que obriga a alterar a visão para dar às pessoas o que é oferecido aos automobilistas”. Aliás, o número de clientes activos cresceu 7,1% para mais de 3,2 milhões no primeiro semestre face ao período homólogo. O número de transacções aumentou 11,6% (para 276,6 milhões), o que teve um impacto positivo nas receitas da empresa – que subiram 9% entre Janeiro e Junho, superando os 28 milhões de euros.

Desde 2002 que a Via Verde deixou de ser apenas um negócio de pagamento de portagens, já que nesse ano estendeu-se às bombas de gasolina, alargando-se no ano seguinte ao estacionamento subterrâneo (já opera em quase 130 parques) e mais recentemente aos ferries e à McDonald’s. Agora, “é altura de trilhar um caminho que nos permita estar presentes em todos os modos de transporte, acompanhando a indústria ou inovando”, refere Pedrou Mourisca. Neste momento, as receitas com estacionamento valem 5% do total, mas a expectativa é que, com o alargamento da app a uma parte importante do país, esse patamar duplique. Já todo o novo negócio da mobilidade poderá valer “10% da facturação no espaço de cinco anos”, antevê.

A estratégia é proactiva face a algumas mudanças importantes que se antecipam. “As pessoas estão cada vez menos agarradas ao automóvel, há cada vez mais pessoas a utilizar vários meios de transporte para se deslocarem, há toda a tecnologia, muito por causa dos smartphones, e há também uma revolução muito grande em termos de restrições à circulação de automóveis”, sintetiza o administrador da Via Verde. “Tivemos a coragem de definir o fim de um ciclo como gestores de infra-estruturas para iniciarmos um ciclo enquanto gestores de mobilidade”, acrescenta. A empresa é detida em 60% pela Brisa e em 20% pela Ascendi, ambas concessionárias de auto-estradas. Os restantes 20% são controlados pela Sibs, empresa dona do Multibanco.

Em negociações com os táxis

Há outros projectos na área da mobilidade já em fase avançada, como o que está actualmente em negociações com os operadores públicos de transportes em Lisboa. Neste caso, trata-se de uma aplicação que permitirá usar o autocarro, o metro, o barco ou o comboio sem bilhete físico e com passagem automática nas cancelas. Um dos benefícios mais relevantes, além da comodidade, é o facto de a plataforma calcular automaticamente se é mais económico ao passageiro pagar viagem a viagem ou um passe mensal, com pré ou pós-pagamento. Os testes já começaram em Setembro, na Fertagus (comboio da Ponte 25 de Abril) e a intenção é “conseguir no espaço de um ano dar uma experiência de utilização completa a todos os clientes".  

Há outro negócio onde a Via Verde quer entrar, o dos táxis, com uma aplicação que permite reservar e pagar viagens, como as que já existem hoje. A vantagem, neste campo, será a extensa base de clientes da empresa e a “reputação” que tem no mercado, acredita Pedro Mourisca. O objectivo é que a ideia se concretize já no próximo ano, mas como a abrangência será total, sem exclusivo para alguns operadores, é preciso que toda “a indústria dos táxis dê o salto de que precisa”. Já há negociações com duas centrais, em Lisboa e no Porto. “No passado foi a Brisa, agora é a Empark. Precisamos de parceiros que tenham a visão de que isto é o futuro”, frisa o gestor. 

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