Finanças dizem que McKinsey também só teve acesso a informação pública

Gabinete de Mário Centeno diz que a consultora McKinsey só trabalhou com "informação pública" e é por isso que agora tem de ser tudo confirmado com auditores. Finanças evitam responder sobre conflito de interesses.

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Centeno disse que não tinha contratado a consultora McKinsey Enric Vives-Rubio

Entre Abril e Agosto, António Domingues esteve a trabalhar no plano de negócio da Caixa Geral de Depósitos e em grande parte desse tempo era ainda administrador do BPI. Ao seu lado estava a consultora McKinsey com a qual não tinha contrato – só foi oficialmente contratada a posteriori, já com a nova administração da CGD em funções. As Finanças confirmam que a McKinsey trabalhou só com "informação pública", tanto que o que foi adiantado tem agora de ser confirmado. O gabinete de Mário Centeno não respondeu às perguntas do PÚBLICO sobre se não poderia haver conflito de interesses.

Além das reuniões entre Domingues e a Direcção Geral da Concorrência da União Europeia (DGComp), que foram confirmadas pela Comissão Europeia esta semana, a oposição quer saber mais sobre a transparência na relação entre a actual administração e a McKinsey. Isto, porque a consultora esteve a trabalhar com Domingues na elaboração do plano de negócios da CGD sem ter qualquer contrato e sem que se soubesse se a McKinsey tinha outros clientes com os quais pudesse haver um potencial conflitos de interesses.

O CDS questionou o Ministério das Finanças sobre a relação entre a McKinsey e a nova administração da CGD e, na volta do correio, o Ministério das Finanças garantiu que, tal como Domingues, também a consultora só teve acesso a informação publicamente disponível: "Para a elaboração e discussão do plano estratégico, o trabalho dos assessores foi efectuado com base em informação pública, através de uma análise outside-in, razão pela qual a administração da CGD está presentemente a confirmar as hipóteses consideradas no plano industrial, nas quais se inclui a discussão com os auditores sobre a carteira e riscos de crédito para confirmação dos níveis de imparidade e aferição dos níveis finais de capitalização", lê-se na resposta a que o PÚBLICO teve acesso.

A avaliação a que as Finanças se referem é a auditoria que está a ser feita para que seja avaliado o valor exacto das imparidades e que vai dar o valor exacto da recapitalização necessária. Está acordado com Bruxelas que a injecção pública pode ir 2,7 mil milhões de euros, mas essa auditoria só estará completa nos primeiros meses de 2017, depois do fecho de contas do ano. Ora o trabalho que a McKinsey fez com Domingues, admite o Ministério das Finanças, foi feito com informação que poderia não estar actualizada ou não ser totalmente suficiente para a elaboração do plano.

Na mesma resposta, o gabinete de Centeno diz que Domingues comunicou a intenção de contratar oficialmente os consultores a 24 de Agosto e que "o Estado, enquanto accionista, não se envolve na decisão interna da CGD no que toca à contratação de serviços de assessoria ou financeiros". De acordo com o Correio da Manhã, esta contratação valeu três milhões de euros.

De fora das respostas das Finanças ficaram, no entanto, todas as perguntas sobre conflitos de interesses. O CDS queria saber "que acções tomou [o Governo] para garantir e fiscalizar a inexistência de conflitos de interesses" e ainda "que elementos considerou relevantes, e que acções tomou, para a salvaguarda da confidencialidade do processo e das informações da CGD". Em causa está, para a oposição, não só a possibilidade de a consultora ter tido acesso a informação privilegiada - que o Governo nega - mas também o facto de, ao estar a aconselhar Domingues, a McKinsey estar a influenciar o futuro estratégico do banco público, e não se saber se há clientes da consultora que podem ou não ser beneficiados.

As Finanças dizem que Centeno "não é decisor" no que à contratação diz respeito e vão ao encontro do que disse Domingues na audição na CPI em Setembro, quando afirmou que os consultores tinham sido escolha sua.

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