Museu Van Gogh contesta autenticidade de desenhos de Van Gogh editados em Paris

Livro com caderno de alegados desenhos do pintor foi publicado em França, e vai chegar também a livrarias da Holanda, Alemanha, Reino Unido, Japão e Estados Unidos.

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Capa da nova edição DR

Aquilo que foi apresentado como uma forte aposta editorial junto dos amantes da obra de Van Gogh redundou, afinal, em polémica: o Museu Van Gogh, em Amesterdão, questionou esta terça-feira a autenticidade dos desenhos publicados pela Seuil, e lançados neste mesmo dia com grande reflexo mediático em Paris.

“Com base em anos de investigação sobre os desenhos de Van Gogh [1853-1890] na colecção do museu e noutros lugares, os investigadores concluíram que estes desenhos são cópias”, disse, em comunicado, o museu holandês, referindo-se à publicação de Vincent Van Gogh, Le brouillard d’Arles. Carnet retrouvé (que poderá traduzir-se por Vincent Van Gogh. A névoa de Arles. Caderno reencontrado), numa edição com texto de Bogomila Welsh-Ovcharov, e com responsabilidade editorial de Bernard Comment.

Além da edição francesa, o livro, que reproduz em fac-simile 65 alegados desenhos do autor de Os Girassóis, terá, a partir de quinta-feira, versões e edições na própria Holanda (ed. Lannoo), mas também na Alemanha (Knesebeck), Inglaterra (Abrams Books), Japão (Kawade Shobo) e Estados Unidos.

A sua existência foi revelada no passado mês de Junho, e nessa altura foi prometida a publicação em livro desta "colecção inédita" de um conjunto – então não especificado – de “mais de uma dezena de desenhos”, que pertencem a um coleccionador privado.

O Museu Van Gogh diz agora, em comunicado citado pela AFP, que os investigadores “examinaram o estilo, a técnica e a iconografia” e concluíram que as imagens “contêm erros topográficos distintos” e que o seu autor se “baseou em desenhos descoloridos de Van Gogh”.

Segunda os dados da edição Seuil, os desenhos foram feitos a tinta num livro de contabilidade de um hotel em Arles, onde o pintor esteve hospedado nesta cidade da Provença, entre 1888 e 1890. Mas o Museu Van Gogh afirma que o pintor nunca utilizou este tipo de tinta, justificando esta posição a partir da análise do milhar de desenhos que o artista realizou ao longo da sua vida. Também a proveniência do caderno suscita dúvidas ao museu.

Bernard Comment contestou a posição do Museu Van Gogh. “Há um templo, e há sempre os guardiões do templo, isso é inevitável”, reagiu o editor da Seuil, segundo a AFP.

Vincent Van Gogh, Le brouillard d’Arles. Carnet retrouvé tem na capa um retrato de homem com chapéu de palha, 288 páginas, e terá como preço de capa, em França, 69 euros.

“Este caderno só era conhecido pelos seus proprietários, por mim próprio e pelo editor”, disse em Junho à AFP Bernard Comment. A autora do texto, canadiana Bogomila Welsh-Ovcharov, é uma reputada especialista na obra do pintor holandês, e foi uma das comissárias da exposição Van Gogh em Paris, realizada no Museu d’Orsay, em 1988.

“Estes desenhos formam um conjunto impressionante; a sua autenticidade foi confirmada por uma série de índices e deduções: levámos este projecto a sério” através de um “verdadeiro trabalho científico”, atestou também agora Bernard Comment sobre a edição, voltando a classificar este espólio como “espantoso, fulgurante”.

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