Inocente até prova em contrário…

Os psicopatas caracterizam-se por serem extremamente frios do ponto de vista emocional. Esperemos que a avaliação a que Pedro Dias terá de ser obrigatoriamente submetido ajude a perceber que tipo de personalidade ele tem.

Em Agosto de 2001, em Fortaleza, Brasil, é desvendado um crime de características inusitadas pela violência empregue e pela frieza com que foi cometido. Um português, Luís Militão Guerreiro, atraiu à Praia do Futuro, outros seis portugueses com promessas de um futuro que afinal se consumiu na areia da mesma, onde foram enterrados já mortos ou moribundos. Luís, o mandante da carnificina, bebia entretanto umas cervejas com o dinheiro que sacou aos incautos. A polícia brasileira depressa prendeu Luís e os seus comparsas. Pelo meio ele deu entrevistas televisivas, chorou copiosamente à frente das câmaras e apresentou várias versões do crime. Na mais cândida delas, pedia o perdão das famílias das suas vítimas e prometia redimir-se. Mas depois tentou várias fugas da prisão e orquestrou outros crimes enquanto preso.

À época, escrevi um texto em que referi que era impossível alguém ter feito o que ele fez sem ter um passado criminal. Logo depois veio a saber-se que Luís já tinha pelo menos uma condenação oficial por furto em Portugal. Em Agosto de 2010 recebi vários mails de Luís Militão (ou alguém por ele mas que colocava o seu nome como autor) pedindo ajuda e solicitando até uma avaliação sobre a sua personalidade, em concreto, se se tratava de um psicopata. Nunca respondi a esses mails mas não me restam muitas dúvidas que será essa a perturbação da personalidade de que é portador. 

Os psicopatas caracterizam-se por serem extremamente frios do ponto de vista emocional, insensíveis ao sofrimento de outrem, loquazes e charmosos, muito manipuladores, egocêntricos, com uma auto-estima elevada e aparentemente possuidores de conhecimentos superiores em várias matérias. Um aturado inquérito e estratégias de avaliação psicológica apropriadas podem contudo ajudar a fazer cair a “máscara da inocência” e revelar a verdadeira natureza do seu ser.  Esperemos que a avaliação a que Pedro Dias tenha de ser obrigatoriamente submetido  ajude a perceber que tipo de personalidade ele é.

Psicólogo Forense e professor da Escola de Psicologia da Universidade do Minho

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